A CHANTAGEM

“Ato de extorquir dinheiro, favores ou vantagens a alguém sob ameaça de revelações escandalosas, ou secretas” (dicionário informal da língua portuguesa- Google)

O fato que irei descrever é referente a um ato de chantagem cometido por uma criança de 9 anos de idade, que perduraram por mais de 5 anos. Obviamente, a “chantagista” não tinha consciência da extensão de sua conduta. Portanto não se deve imputar-lhe culpa. Por outro lado, o motivo que suscitaram a publicação dessas linhas foi um texto muito interessante sobre o mesmo tema, escrito por uma grande escritora desse site: ANA BAILUNE.

Antes de entrar nos detalhes do ocorrido, gostaria de dizer que minha infância foi vivida em uma cidade do interior, juntamente com quatro irmãos e mais alguns primos que sempre se reuniam em nossa casa. Minha mãe era muito austera com a nossa educação. De vez em quando, dava uma surra em um de nós, por conta de mau comportamento. Dependendo da gravidade da peraltice, a surra era extensiva aos outros filhos. Nesses casos, o castigo visava corrigir também, a omissão ou conivência dos demais.

Em determinada ocasião, eu com 9 anos de idade conversava com meu priminho de 6 anos. Como era mais velho e estando na escola, sempre tinha novidades para os outros familiares menores. Na oportunidade, fazia uma exposição detalhada sobre a prática sexual, que incluía entre outras coisas, explicações sobre a relação sexual e geração de filhos. Atentamente, meu pequeno pupilo acompanhava com os olhos e boca aberta todas aquelas novidades, obtidas de meus colegas de aula e agora repassadas a ele. Entretanto, atrás da porta, minha irmã de 10 anos, também não perdeu nenhuma palavra daquela aula inusitada. No final, abriu a porta e fez uma terrível revelação: “tinha ouvido todas aquelas indecências que eu tinha dito e iria imediatamente levar ao conhecimento de nossa mãe”.

Naquele momento, pareceu que o mundo desabou sobre mim. Ajoelhei e roguei a ela por tudo que era mais sagrado que não contasse nada do ocorrido. Ela parecia irredutível, contudo em determinado momento, disse: “se você fizer tudo que eu quiser daqui prá frente, eu não direi nada”. Eu, aliviado, aceitei prontamente as suas condições. Daquele dia em diante minha vida virou um inferno. Pois, tinha que fazer as minhas tarefas domésticas e as delas. Qualquer desavença, ou disputa, invariavelmente ela falava as palavras mágicas: “se você não me obedecer, eu conto o que você falou naquele dia prá mamãe”. O efeito era imediato, incontinente, fazia todas as suas vontades, ela poderosa ria da minha fraqueza.

Infelizmente, essa chantagem durou por cinco longos anos. Nesse tempo senti-me bastante inferiorizado perante meus familiares. Eles imaginavam que eu tinha cometido alguma coisa muito grave, para submeter-me tão humildemente as vontades de alguém. Na minha mente, parecia que meu “delito”, conforme passava o tempo, aumentava de tamanho, tornando-se pavoroso, abstrato.

Um dia, minha irmã resolveu contar tudo. Na hora fatídica da revelação, foi uma decepção total. Já que ela tinha esquecido os detalhes de minha infeliz explanação e talvez pelo tempo passado do fato, já não iria mais produzir grande impacto. Assim, por motivos que não ficaram totalmente esclarecidos, ela resolveu de última hora permanecer calada.

Foi um alívio muito grande. Evidentemente,no seu imaginário de criança, ela não tinha noção da extensão e gravidade do problema que proporcionou, era apenas uma brincadeira que foi se prolongando.

Caro leitor, aparentemente o teor das pretensas revelações daquela menina não assustaria ninguém. Entretanto, no período que perdurou essa “inocente” chantagem, representou um sofrimento muito grande para mim.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 12/08/2011
Reeditado em 13/08/2011
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