ÓCULOS NOVOS
 
Fiz a cirurgia da catarata e foi sucesso, nenhum temor, nem dor. Descobri que estivera sem enxergar neste olho esquerdo durante anos. Mas a vista curada, voltei ao médico para conferir e pegar os óculos receitados e prontos para usar. Lindo, alinhadíssimo adorei. O doutor conferiu que as lentes estavam corretas. Minha filha me acompanhou e os dois mantiveram um papo ameno enquanto ele examinava. _Sente nesta cadeira, ordenou ele, e viu que estava tudo bem, olho curado.  E continuou _ agora sente nesta outra cadeira, ao que obedeci. Olhou o olho e se virou de costas, e frente pra minha filha que sorria e olhava. Falei _ posso sair daqui? E já ia escorregando da complicada cadeira, ele: _ não, fique aí. E rápido, com a sutileza de uma abelha se movimentando no ar, ele já estava voltado para mim com duas agulhas longas e finas direto ao meu olho, uma delas de um uns dez centímetros de comprimento e as duas embicadas no canto do olho: um horror, que não tinha tempo de sentir nem reagir, era só ficar imóvel, sem ação e sem pensamento, enquanto ele dizia _ é o canal lacrimal que está com uma película, é “roter-rooter”!  E foi enfiando aqueles dois instrumentos e falando no meu paralisado terror, _ vai sentir um gostinho diferente dentro do nariz e estará pronto. Fiquei estatelada, uma situação extrema inqualificável, maior que o medo que sentia. Uma ameaça, se eu mexesse seria pior. _Avise quando sentir o gosto comandou, eu obedeci ao comando inadmissível e respondi _senti o gosto.
E ele me libertou. Minha filha se imobilizara, pasma. Ele rindo explicou que desentupira o canal lacrimal. Despedimo-nos com um abraço já de amigos e com alívio de correr dali. Voltamos comentando o acontecido e eu falando, falando. Chegando já perto de casa falei para ela _ Minha filha, quando um homem estupra uma mulher ele deve fazer uma ameaça horripilante que a vítima fica sem poder se mexer, sem pensar e reagir, como me aconteceu lá com o doutor. A gente não consegue fazer nem ser nada e o estuprador tem o total domínio.                                                               Palavras: 361 - 12/08/2011 - MLuiza