Apagão provoca caos em Limoeiro do norte
É noite e chove torrencialmente no município de Limoeiro do Norte. Como se não bastassem às intempéries climáticas, ainda falta energia em grande parte da cidade.
Sentada em minha cadeira de balanço contemplo a lua que, findada a chuva, começa a cintilar por detrás das nuvens. Quanto tempo não à via, pelo menos não assim tão bela. Neste momento, minha mente transporta-se para o ano de 1969, tinha eu seis anos. Acomodada num típico tamborete de madeira ouvia meu avô relatando as peripécias de Lampião, principalmente do jantar promovido a ele em nossa casa, quando de sua passagem por Limoeiro. Naquela noite a lua também se mostrava, exibida como só ela, seu brilho era ofuscado, apenas, pela luz da lamparina que colocávamos no cantinho do alpendre.
Éramos, acima de tudo, pessoas felizes e saudáveis. Ontem mesmo, li no jornal que os rios e o solo da Chapada do Apodi estão completamente contaminados pela altíssima quantidade de agrotóxicos pulverizados naquela região. Muito diferente de antigamente, quanto tínhamos em nosso próprio quintal frutas e verduras frescas e que a água, puríssima, além de viável ao consumo, era o refresco do verão nordestino. Como eram bons aqueles banhos de rio!
Que saudosas lembranças tenho de Garrocha, minha primeira bicicleta. Naquele tempo, o tráfego não era tão intenso, a não ser pela tumultuada infestação ciclística que forneceu a Limoeiro, a alcunha de “cidade das bicicletas”. Com Garrocha, eu ia a qualquer lugar, principalmente ao cinema, que apesar de incipiente, arrancava deliciosas gargalhadas. Incontáveis foram às vezes em que eu, ainda meninota, andando de bicicleta pela Catedral era convocada a ir à padaria comprar pão guaraná para o internacionalmente conhecido artista plástico, Márcio Mendonça, que trabalhava na reconstrução artística da Igreja.
Na minha época de mocinha, o que mais me animava, além do cinema, eram as noites de festa - que se resumiam a duas noites- e as novenas, principalmente as de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município. Isso tudo sem contar a alvorada feita como comemoração ao aniversário da cidade. Aquilo sim era festa! Sem violência, sem tumultos e nem feridos.
Como me entristece, minha cidade, saber que seguimos caminhos tão opostos. Enquanto tu, mesmo com tuas falhas, cresces, a cada dia mais envelheço e perco a visão atual que tenho de ti. Por falar em visão, percebo que acaba de chegar energia e agora posso também contemplar a Princesinha moderna, urbanizada, sem esquecer, porém, da Princesinha do passado que ainda reside nos pensamentos e na vida de inúmeros limoeirenses.
Feliz aniversário Limoeiro!