Proibido para menores

A primeira vez que eu assisti a um filme pornô foi em 1988, quando eu tinha treze anos e cursava a sétima série do Ensino Fundamental. Quem conseguiu o filme foi um colega de sala, que conhecia a moça da locadora e convenceu-a, sem muita dificuldade, a nos alugar a fita. Fomos então para a casa dele, junto com mais um colega, os corações disparados [a gente nem tinha “cabelo debaixo do braço”, como se dizia], para assistir a “New Wave Hookers”, hoje considerado um clássico do pornô. [A mãe dele não estava em casa e a irmã tinha ido fazer um trabalho de escola na casa de uma amiga].

Ficamos impressionados com o filme! Nunca tínhamos assistido a cenas de sexo explícito, apenas imaginado o que acontecia e folheado as revistas “Ele & Ela” ou “Playboy” que nossos pais insistiam em esconder naqueles lugares mais óbvios, talvez querendo que a gente as encontrasse. Mas aquilo era bem diferente! E hoje, analisando minhas incursões posteriores pelo universo da pornografia [e aquela moça da locadora foi substituída por outras ainda mais maleáveis], posso afirmar, com muita tranqüilidade, que o fato de eu ter assistido tão precocemente a cenas de sexo explícito não contribuiu em nada para o meu amadurecimento psicológico e sexual. Diria até que o prejudicou, pois a obrigação machista de perder a virgindade aos quinze ou dezesseis anos passou a ser associada, na minha mente, a uma imagem tão clara quanto irreal de como aquilo deveria acontecer. Só para começo de conversa, uma coisa era impossível de ser resolvida: o meu pinto não chegava nem aos pés daquelas monstruosidades que a gente via nos filmes, órgãos que, inocentemente, a gente achava serem de tamanho normal. E as mulheres? Minha maior preocupação era se eu daria conta daquelas loucas devassas que, aos gritos, se jogavam sobre os homens como se fossem arrancar seus couros com unhas e dentes.

Dessa imagem falsa vieram os medos irracionais e as frustrações em grau muito mais acentuado do que o normal, até eu descobrir o amor e perceber que aquilo tudo não tinha nada a ver com o prazer verdadeiro de estar com alguém que te conhece e te faz feliz, não só na cama, mas na vida, numa relação de troca e companheirismo.

Hoje, a pornografia tradicional está em crise. Muitas produtoras de filmes pornográficos, acostumadas a produzir apenas para as videolocadoras, estão perdendo espaço para os sites, que disponibilizam gratuitamente o que os punheteiros de plantão mais apreciam: milhares de cenas curtas para baixar no computador, com inúmeras opções: loiras, morenas, coroas, gordas, gordinhas, negras, ruivas, orientais, etc., etc. E isso é o mínimo que podemos dizer sobre o que está disponível hoje, para quem quiser (seja criança, adolescente ou adulto), na rede mundial de computadores.

É de morrer de rir aqueles avisos que eles colocam nos sites: “O conteúdo deste site é impróprio para menores de 18 anos. Se você ainda não completou 18 anos, não prossiga”. Se em 1988 a gente montava quase uma operação de guerra para assistir a uma fita pornô, sabendo que era proibido, que a moça da locadora podia ser descoberta e nossos pais informados de tudo, será que em 2010 um adolescente com os hormônios à flor da pele vai se importar com um aviso inútil que aparece na tela do computador e não prosseguir? Será que ele vai dizer “Ah, que pena... Eu só tenho quinze anos... Não vou poder continuar...”? E aqueles sites que pedem para você clicar no ano do seu nascimento? Com certeza, a maioria dos adolescentes de doze, treze ou quatorze anos que entram nesses sites afirmam ter nascido em 1970, 1975 ou 1980. É só escolher um ano qualquer, anterior a 1992, e entrar, sem problema.

Posso parecer antiquado e conservador para alguns libertários acostumados com meus arroubos em defesa da democracia e da justiça social, mas acho preocupante essa facilidade de acesso à pornografia on-line hoje em dia. Em 2005, por exemplo, quando eu lecionava na oitava série de uma escola particular em Pará de Minas, surpreendi um grupo de alunos (de treze e quatorze anos) comentando as cenas que eles tinham assistido em um determinado site de sexo explícito.

Isso não é preocupante? Que imagem esses jovens vão ter do sexo? E da família? Sem contar o perigo de se verem envolvidos com maníacos sexuais e pedófilos, e também de se viciarem em pornografia [pois a pornografia vicia tanto quanto álcool, nicotina ou maconha, destrói famílias e transforma profissionais brilhantes em pessoas incapazes para a vida].

Caro leitor, muita atenção ao que seus filhos acessam na internet. É muito importante colocar limites e procurar utilizar ao máximo as tecnologias que existem para bloquear sites impróprios, mesmo sabendo que os jovens de hoje conseguem encontrar brechas e programas para quase tudo dentro da rede. Mas o mais importante é o diálogo e a sua presença na educação dos seus filhos. Eu, que tenho uma filha de cinco anos e um filho de um ano e meio, ainda não estou vivendo esse problema, mas já penso nele com um certo frio na barriga, pois se hoje as coisas estão assim, como estarão daqui a oito ou dez anos?

Mas vamos ser otimistas! Quem sabe os nossos representantes no Congresso (que são muito bem pagos para defender os nossos interesses) não encontrem mecanismos mais eficazes para controlar a pornografia na internet? Será possível?