MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM


          Conhecer o mar é o sonho de quase todo interiorano. Como amazônida, o meu não poderia ser diferente. Esse sonho é quase sempre oriundo da leitura. De poesia, de romances de aventura, de narrativas de viagens. Assim foi o meu. O primeiro romance que li foi “Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe. Escritor inglês que viveu entre 1660 e 1731. Foi um prêmio escolar. Não lembro a razão de tal premiação. Sei que me aventurei, me naveguei, me naufraguei com Crusoé. Ajudou a construir o meu individualismo? No mínimo a gostar de literatura. Depois veio a poesia de Castro Alves (1847-1871):
 
                                         “`stamos em pleno mar...Abrindo as velas
                                        Ao quente arfar das vibrações marinhas,
                                        Veleiro brigue corre à flor dos mares
                                        Como roçam na vaga as andorinhas...”

 
          Mas foi a poetisa amazonense Violeta Branca Menescal de Vasconcelos que realmente começou com seus poemas a encher de vagas a minha adolescência. Líamos e relíamos seu livro “Ritmos de Inquieta Alegria”. Por causa dele, fomos amantes e marujos. Por ela mesma enamorados:
 
                                        “ Estendo os braços para o mar
                                        -Glória maior do movimento-
                                        E levanto os olhos para o sol
                                        Suprema síntese da luz!”

 
          Até que um dia, não suportando mais esperar, tomei um barco e fui conhecer o mar. Depois de viajar vários dias pelo “Mar Dulce” entramos no delta amazônico de madrugada. Era de ver-se o grande triângulo se abrindo, deixando de ser rio e metamorfoseando-se em Oceano. Atlântico. O deus raivoso. O barco perdendo a estabilidade, os conveses se despovoando, os passageiros se recolhendo e eu, ali, firme, esperando o grande momento do “stamos em pleno mar”.
          De repente, como num piscar de olhos, num cochilo, numa vertigem, não havia mais nada senão água, água, água. A superfície era uma massa espessa como vísceras pulsantes e vivas. O mundo se liquidificara e só existia o mar, e sobre o mar o navio, e dentro do navio, um sonho a navegar.
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 11/08/2011
Reeditado em 11/08/2011
Código do texto: T3154628