LEMBRANÇAS DE MEU PAI

Comecei a remexer no baú das recordações e as memórias que se encontravam escondidas no recôndito de minha alma vieram à tona.

Senti saudades de meu pai, coisa que nunca havia conscientemente percebido.

Saudades de seu colo, seu abraço, saudades que cauterizaram em minha vida, como se cauteriza uma ferida e nem percebemos a cicatriz que ficou.

Meu pai sofreu muito, sentia uma dor na alma que eu não entendia. Deixou-nos muito cedo, tinha apenas 53 anos, era jovem demais para partir, “porém, o tenho vivo em meu coração, mesmo que estas memórias fiquem às vezes adormecidas.

E sem ao menos perceber, as horas foram passando e lá fora o tempo havia mudado.

A tempestade quebrou a seqüência de minhas lembranças, pois, de repente, ouvi o estrondo de um forte trovão e as vidraças do escritório começaram a ser fustigadas por uma chuva torrencial acompanhada de granizo, ou como se dizem “chuva de pedra”.

No ar, podia ser sentido o cheiro gostoso da terra molhada e das flores que mesmo sofrendo o impacto daquelas pedras, exalavam seu perfume.

Em minutos formou-se uma forte e barrenta enxurrada que levava de roldão tudo o que encontrava pela frente.

O jeito era esperar a chuva passar, para poder sair dali.

Os ponteiros do relógio já se aproximavam das quinze horas, horário limite para cumprir meu compromisso anteriormente agendado.

A chuva deu uma trégua e eu pude sair e seguir até meu carro que estava estacionado numa rua próxima.

Aqueles poucos minutos de tempestade causaram um verdadeiro caos na cidade.

O cenário já era outro: árvores tortas, umas quebradas, outras retorcidas pela fúria do vento, placas de lojas arrancadas, folhas mortas despedaçadas, esparramadas pelo chão.

A enxurrada parecia um riacho, descendo rua abaixo, carregando lixo e pequenos objetos, desaparecendo mais além, engolida por um bueiro.

Essa cena aliada talvez, as minhas recordações provocaram em mim uma série de reflexões sobre o quanto a vida se assemelha ao que estava presenciando:

Num momento, suave, quente e prazerosa, logo em seguida, tumultuada, revolta e aparentemente cheia de sofrimentos que, embora pareça não ter fim, logo se transmutam e deles a pessoa ressurge mais forte, assim como a terra castigada, na verdade, está sendo preparada para dar frutos e flores.

Senti uma brisa mais fresca, invadindo minha alma despertando-me a vontade de finalmente encarar mais e mais lembranças guardadas na minha memória. Lembro muito de você meu querido pai.

Edina Simionato
Enviado por Edina Simionato em 11/08/2011
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