Safadeza
Entre as grades de uma sentença, duas vezes preso, ele aguarda o julgamento do seu coração. Preso pelos homens por roubar galinha, preso por si mesmo na safadeza da ilusão de possuir o que é do outro, e de saber que tudo que começa torto, termina com choro, não apenas dos outros; mas principalmente de quem amor lhe tinha!
Ó Criança, vê se aprende a se libertar! Anda na linha!
Te ví ainda guri, brincando de se esconder de mim e sorrindo diante da vida; agora brinca com a vida alheia e poê a perder o corpo que tua mãe lhe deu.
Você sabe sobre o esforço para trazer alguém para esse mundo?
Você conhece o quanto é doloroso, carregar alguém dentro do corpo para depois ver essa parte sua dentro de um presídio, vivendo como um vivo-morto?
Ó Criança, vê se aprende a ter somente aquilo que vem de você! Chegou a hora de crescer!
Seja racional e perceba que nada que você pegou do outro, vingou fortuna; pelo contrário, o que é roubado não é perdido, e quem "perdeu" não é relaxado!
Seja egoísta e pensa somente nos seus amados, na fama de ser o único ladrão da família, aquele que todos apontam, aquele que todos tem vergonha, aquele que ninguém confia por perto, aquele que seria melhor, muitas vezes, que nem existisse.
Seja orgulhoso e ao invés da luta contra o outro, mostre a si mesmo, que você é capaz de sair desse mundo de safadeza e trazer para a sua mesa, um pão que seja, mais que ele se multiplique, pois é somente com o suor do rosto que trazemos para nós, a abundância.
Ó Criança, volta para gente e pare com essa ganância!
Você é bem-vindo na nossa casa, mas entre com os pés limpos e saia ainda mais querido, pois quero voltar a te chamar de meu irmão, meu amigo!