Encontros & Desencontros

Receber mensagens de conforto de alguém que não conhecemos, em geral gera espanto porém com o passar do tempo, a estranheza inicial se transforma em sinais de carinho e dai, novas amizades vem a tona transformando momentos ruins em fatos inesquecíveis em nossa vida. Meses atrás durante viagem ao litoral, sentada na poltrona ao lado da minha, uma mulher soluçava. Percebi que enquanto transformava em choro a dor que sentia, escondia o olhar e pela cor de suas vestes, parecia estar de luto.

Com cuidado, perguntei se poderia fazer algo e num gesto solicitando tempo - parecia ansiosa por falar - recompos o rosto ligeiramente molhado para expressar em poucas palavras algo que marcou. Perguntou se eu era anjo que estava lá para fazer companhia. Surpreso, disse que era apenas um homem contristado com sua dor ao que ela respondeu: "desculpe... preciso de alguém que olhe em meus olhos e diga que vale a pena viver". A profundidade de suas palavras tomou meu ser e solicitei dela qual a causa do choro ao que respondeu ter perdido o pai, melhor de seus amigos e pessoa a quem recorria em momentos de pesar pois as palavras que dele recebia a consolavam com ninguém mais. Com novo gesto, voltou seu olhar para o horizonte e dei conta do quanto necessitava de um ombro-amigo. Perguntei se não gostaria de discorrer pois contávamos com o tempo da viagem para isso e... Desconfiada, concordou porém se mostrou reticente até o momento do desembarque sem abrir-se um instante sequer.

Dias atrás a reconheci numa multidão de anônimos sorrindo de orelha a orelha. Ela me fitava carinhosamente e com ares de agradecimento, pediu perdão comentando: "estava amarga - desculpe a falta de educação mas meu pai era o meu confidente e feito você, costumava estender as mãos sempre que algo ruim acontecia. Dai, peço perdão pela ousadia mas eu o convido ir a um local mais aconchegante pois necessito conhecer essa alma tão bela pois o que fez por mim aquele dia foi de suma importância para eu estar viva agora - desculpe se disse que necessitava de um anjo mas você me pareceu um naquele momento. Por favor - precisamos conversar - gostaria de ser sua amiga porém insto não depende de mim".

Surpreso, agradeci sua oferta porém naquele momento, quem estava péssimo era eu. Desconversando, pedi tempo da mesma forma que ela havia feito antes durante a viagem. Serenamente, recebi dela um cartão com seu numero de telefone e a partir dai, despedimo-nos feito adolescentes olhando fixamente um o rosto do outro tomando rumo incerto. Quem sabe um dia, encontre onde coloquei o bendito cartão e, movido por alguma força invisível, um anjo me conceda energia para ligar para ela e quem sabe, encontrar em seu ombro algo mais sem pensar em mascaras.

Manoel 11/12/06 - 14:03h.

Manoel
Enviado por Manoel em 11/12/2006
Reeditado em 12/12/2006
Código do texto: T315316
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