Não queremos conhecimentos, desejamos certezas



“No geral não queremos conhecimentos, desejamos sim certezas”, aqui termina conceitualmente Bertrand Russell, daqui para frente acrescento eu: Certezas são em geral impossíveis de se obter. Organicamente, fisicamente ou neurologicamente, somos extremamente limitados frente ao que seria minimamente necessário para conseguirmos algum nível de certeza. Certeza absoluta, ousaria acreditar que estaremos eternamente afastados dela. Em sendo isto um fato, não podemos nos entregar a um ceticismo tal que nada seja verdadeiro, ou a um niilismo tal que nada tenha valor.
 
Nossa experiência, essencial aliada, nos deveria fazer fugir das, puras e simples, intuições. A experiência é uma parceira e tanta, mas mesmo ela é limitada posto que necessita ser interpretada, e não temos acesso a todos os dados de cada experiencia, nem tão pouco possuímos um poder de processamento mental suficiente para processar todas estas informações envolvidas. Desta forma muitas vezes acabamos retornando inadvertidamente ao uso da intuição e da indução.
 
Neste cenário, e por certa preguiça de aprofundar uma análise, sempre crítica e racional quando possível, acabamos aceitando de bom grado pareceres dogmáticos daqueles que de alguma forma confiamos, ou mais ainda, acabamos aceitando informações advindas de revelações, ainda mais quando fomos catequizados para aceitar um deus onipotente, onisciente e onipresente, o que naturalmente nos intimida a questionar, analisar, criticar e racionalizar estas revelações.
 
O que levaria um deus onipotente a precisar se utilizar de revelações, revelações estas que são humano-dependentes de interpretação. Entendo que estas interpretações variam ao longo do tempo, ao longo de espaços geográficos distintos e ao longo de posições sociais específicas.
 
Para mim é estranho que deus tenha escolhido o método da revelação, posto que este método naturalmente permite sua utilização de forma charlatanesca. Não existe formas, pelo menos ainda hoje, e muito menos no passado, para confirmar se o que alguém expressa oralmente é verdadeiro ou é pura ficção e charlatanice no atendimento aos interesses pessoais ou mesmo de algum grupo social. Me soa assim no mínimo arriscado que este deus tenha escolhido este método, quando pelo poder que a ele é atribuído, poderia ele ter escolhido outras formas mais diretas e fortes de divulgar suas verdades e seus desejos.
 
Toda revelação me parece contrária ao espírito humano pois limita nosso pensar e nos coloca na posição de acreditar acima de racionalizar. Mas o que mais me assusta é a impossibilidade de provar alguma realidade nas revelações, posto que somos impossibilitados de separar o joio do trigo, o sincero do mentiroso, o hipoteticamente verdadeiro do possivelmente charlatão.
 
Não duvido da crença de ninguém, mas enquanto as religiões estiverem estruturadas sobre revelações, ela é para mim um possível viveiro de fábulas ou mesmo de falácias, nos sendo impossível separar o possivelmente sincero do mero falastrão.
 
A principal revelação deve ser a obra praticada, a obra construída continuamente, ou os exemplos de vida praticados na continuidade do dia a dia.
 
O conhecimento requer tempo, dedicação, pesquisa e trabalho, e as certezas fáceis são um risco, crer pela mente dos outros é se lançar em voo cego pela eternidade do viver.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 10/08/2011
Código do texto: T3152491
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