As pessoas complicam muito as coisas
Recentemente encontrei um amigo que me confidenciou estar com a dentição amolecida, que por isso andava afastado dos amigos, pois estava desconfortável em mastigar um churrasco e outros quitutes mais sólidos. Andava desanimado e com a auto-estima baixa. Disse-me que havia marcado ir a uma clínica para orçar um implante, porém não compareceu conforme o combinado, ficara envergonhado e ao mesmo tempo receoso pelo alto custo do tratamento. Enquanto me contava seu drama, pude perceber que aos poucos ele ia ganhando confiança pela receptividade que eu transmitia, como bytes recebidos e enviados em uma conexão, ele ria de sua “desgraça” simplesmente porque foi capaz de revelá-la a alguém.
As pessoas complicam muito as coisas, mastigam saudades até o “caroço” e bebem o orgulho até a última gota. Dificultar um problema parece ser o caminho mais sem obstáculos para a sua resolução. Colocar a cabeça para fora do barco, avistar um punhado de terra e pisar em chão firme parece inatingível.
Como um verdadeiro protocolo TCP/IP eu era a conexão confiável que meu amigo precisava para navegar por seus conflitos internos e dar o primeiro passo para amenizá-los.
Às vezes precisamos encontrar alguém que nos permita usar seus ouvidos por uns minutos; usar seus olhos como espelhos por algumas frações de segundos.
É perguntando que desfazemos dúvidas e é fazendo que matamos a vontade.
Eu disse a ele: - imagine se você morre sem ter feito os implantes. Aí um filme de sua vida passa na sua frente e você se vê diante de uns poucos degraus que levam até a clínica. Você reluta em subi-los, por total insegurança, passa a sofrer por isso, isola-se do convívio social, deixa de viver preciosos momentos que nunca mais voltarão. Eu acho que você pediria uma nova chance e daria mais valor aos detalhes que podem transformar a sua vida. Como dizem por aí, o não você já tem, o sim é o risco.
Bem, você ainda está aqui, então vá lá, agora, e suba aqueles malditos degraus e venha sorrir comendo o churrasco que vamos preparar para celebrar a vida.
Ricardo Mezavila