Felicidade Conjugal 15

-Meu cabelo está muito liso.

Silêncio

-Você ouviu! Meu cabelo ficou muito liso.

-Que bom. Você pagou R$ 300,00 para fazer isso aí e deve estar muito contente. Por esse preço, tem que ficar contente.

-Pois é, mas eu já tinha o cabelo liso e ficou ainda muito mais liso.

-Legal.

-Acho que vou cortar um pouco aqui atrás.

-Pega a tesoura que eu corto pra você.

-Mas você não sabe.

-Cortar! Claro que sei.

-Mas você não é profissional especializado.

-Mas também não vou cobrar por isso. Se você não gostar não perde nada.

-É melhor eu ir em alguém que entende. A gente paga, mas fica tranqüila.

-É! Deve ser o tanto de tranqüilidade que você pagou para ele ficar liso. Aproveita então a lisura dos trezentos.

Silêncio

-Você tem que entender que mulher é assim mesmo.

-De que jeito é assim!

-A mulher procura ficar sempre melhor.

-Melhor do que estava antes da lisura!

- É isso mesmo. Não estava bom e alisei um pouco mais.

-E agora para melhorar você vai alisar menos! Ou melhor, resolveu cortar o liso!

Silêncio

-Vou dar uma saidinha. Preciso de um dinheiro, mas já volto.

-Mas aonde você vai!

-Dar um corte.

-Você não vai dar um corte, você vai é pagar um corte.

Chorando

-Eu não sei viver sem meus cabelos... Lisos... Crespos... Lisos sem ser crespos. Já nem sei mais nada. É você que faz com que eu fique assim desesperada. É que você não tem a sensibilidade para entender o que representa os cabelos para uma mulher. Você é um monstro assombrado.

-Caramba, eu sou um monstro!

-Você é um monstro.

-E quanto custa o tal do corte para eu não ser um monstro!

-Somente R$ 100,00.

-Tudo bem então, toma lá o dinheiro. Por essa quantia eu deixo de ser esse monstro assombrado e estou perdoado!

-Sim e você sabe que sim.

Pensando sozinho

Paguei caro, mas zerei meus tantos outros pecados.

-Corta lá que dessa vez eu sei que o cabelo vai ficar bom.

-É tão bom saber que às vezes a gente se entende.

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