Que nem o tanque
Que nem o tanque
Estava então indo eu, pedir ajuda ao zelador, pois naquela altura parecia que o tanque ia descolar da parede. O homem ficou nervoso, disse que poderia cair. Ofereci café, que é um pó preto que se coloca na água. Ele ficou indeciso se era o caso de usar rejunte ou de parafusar.
Outras pessoas apareceram para examinar o tanque.
O 37 Batalhão do Corpo de Bombeiros veio esbaforido, suspeitando de uma luz no fim do tanque. Expliquei que o vizinho é louco e usa uma estroboscópica e às vezes aparecem umas mulheres. Sempre me perguntei o que é que eles fazem.
Daí surgiu Spielberg com a equipe de filmagem do “Contatos Imediatos”, alguns estão vivos, outros mortos, mas vieram todos examinar o tanque. Um deles, de barbas brancas, perguntou: onde está o Brasil? Então chegaram alguns políticos, e um ministro de um governo passado, acho que estava morto, não sei, depois apareceu o Faustão dizendo que o tanque poderia ter figurado na “Dança dos Famosos” e o zelador protestou dizendo que faltava um parafuso.
Nisso eu havia saído para comprar massa de rejunte, pois o problema todo é que o tanque estava se descolando da parede, e quando volto um grupo de ortopedistas do Einstein estava espiando o tanque com o 37 dos Bombeiros. Os ortopedistas vieram porque se o tanque caísse no meu pé poderia haver problemas, para mim e não para o tanque.
Tentei começar a preparar o rejunte, que não passa de um pó marrom que deve ser misturado com água, quando alguém da equipe do Spielberg comentou que o tanque seria utilizado na continuação de “Contatos Imediatos”. Eu protestei, expliquei que precisava do tanque com o propósito de umedecer as roupas em água e sabão, sendo este último um pó azul que se mistura na água. O homem de barbas tornou a perguntar: onde está o Brasil?
Enfastiado surgiu o prefeito, resmungando que o tanque estava em todas as emissoras, que os telefones não paravam de tocar, aproveitei para lhe perguntar porque quase todas as ruas da cidade cheiram a urina, ele não me respondeu e foi embora com os políticos. Logo em seguida vieram uns caras com motos-serra, soube-se que vinham da Amazônia e estavam programados para derrubar tudo, tudo, tudo, queriam serrar o tanque, barrei-lhes a passagem com um brado: meu tanque não!
Um minuto depois alguém, não sei quem, disse que esse tanque era pretensioso, feito o personagem “Pestana” de Machado de Assis, um compositor medíocre querendo ascender como erudito, mas só se destacava tocando polca. Repliquei que era apenas um tanque precisando de reparos. Outro membro da equipe do Spielberg, que estava mais pra lá do que pra cá, perguntou-me se o “Pestana” era consistente e um dos bombeiros explicou tratar-se de personagem de ficção. Outro ainda filosofou se estava vivo ou morto. Houve discussão. Foi quando aquele estrangeiro perguntou de outra forma: como é o Brasil? E eu lhe disse: que nem o tanque.
(Imagem: Huguette Caland, Rocinante II disfarçado, 2012 Mídia mista sobre tela)
Que nem o tanque
Estava então indo eu, pedir ajuda ao zelador, pois naquela altura parecia que o tanque ia descolar da parede. O homem ficou nervoso, disse que poderia cair. Ofereci café, que é um pó preto que se coloca na água. Ele ficou indeciso se era o caso de usar rejunte ou de parafusar.
Outras pessoas apareceram para examinar o tanque.
O 37 Batalhão do Corpo de Bombeiros veio esbaforido, suspeitando de uma luz no fim do tanque. Expliquei que o vizinho é louco e usa uma estroboscópica e às vezes aparecem umas mulheres. Sempre me perguntei o que é que eles fazem.
Daí surgiu Spielberg com a equipe de filmagem do “Contatos Imediatos”, alguns estão vivos, outros mortos, mas vieram todos examinar o tanque. Um deles, de barbas brancas, perguntou: onde está o Brasil? Então chegaram alguns políticos, e um ministro de um governo passado, acho que estava morto, não sei, depois apareceu o Faustão dizendo que o tanque poderia ter figurado na “Dança dos Famosos” e o zelador protestou dizendo que faltava um parafuso.
Nisso eu havia saído para comprar massa de rejunte, pois o problema todo é que o tanque estava se descolando da parede, e quando volto um grupo de ortopedistas do Einstein estava espiando o tanque com o 37 dos Bombeiros. Os ortopedistas vieram porque se o tanque caísse no meu pé poderia haver problemas, para mim e não para o tanque.
Tentei começar a preparar o rejunte, que não passa de um pó marrom que deve ser misturado com água, quando alguém da equipe do Spielberg comentou que o tanque seria utilizado na continuação de “Contatos Imediatos”. Eu protestei, expliquei que precisava do tanque com o propósito de umedecer as roupas em água e sabão, sendo este último um pó azul que se mistura na água. O homem de barbas tornou a perguntar: onde está o Brasil?
Enfastiado surgiu o prefeito, resmungando que o tanque estava em todas as emissoras, que os telefones não paravam de tocar, aproveitei para lhe perguntar porque quase todas as ruas da cidade cheiram a urina, ele não me respondeu e foi embora com os políticos. Logo em seguida vieram uns caras com motos-serra, soube-se que vinham da Amazônia e estavam programados para derrubar tudo, tudo, tudo, queriam serrar o tanque, barrei-lhes a passagem com um brado: meu tanque não!
Um minuto depois alguém, não sei quem, disse que esse tanque era pretensioso, feito o personagem “Pestana” de Machado de Assis, um compositor medíocre querendo ascender como erudito, mas só se destacava tocando polca. Repliquei que era apenas um tanque precisando de reparos. Outro membro da equipe do Spielberg, que estava mais pra lá do que pra cá, perguntou-me se o “Pestana” era consistente e um dos bombeiros explicou tratar-se de personagem de ficção. Outro ainda filosofou se estava vivo ou morto. Houve discussão. Foi quando aquele estrangeiro perguntou de outra forma: como é o Brasil? E eu lhe disse: que nem o tanque.
(Imagem: Huguette Caland, Rocinante II disfarçado, 2012 Mídia mista sobre tela)