Da Torre

Aqui do alto da Torre de TV, eu vejo Brasília como um turista. O Congresso está lá ao fundo, e daqui parece tão perto! Ah, quem diria que é para lá, para aquelas duas torres e duas bacias, que todo brasileiro de bem direciona a sua raiva. Não, vamos olhar outra coisa. Lá atrás, do lado direito, está a Ponte JK. Sim, também se chama JK. Tudo por aqui se chama JK. E dessa vez, não é obra do Niemeyer. Dá pra ver o Lago Paranoá também. Eu queria ter algo a falar dele, mas não tenho nada. Parece que é artificial. Mas é bonito né? E essas caixinhas verdes ali no meio são os ministérios. Não me pergunte qual é qual. Aquilo ali, no gramado entre os ministérios, é uma árvore de Natal. Ano passado não teve árvore nenhuma. O Natal foi cancelado por motivos políticos. Do lado direito, antes do primeiro ministério, é a Catedral. Sim senhor, ali o Niemeyer acertou a mão. Nem precisa ser católico. E antes dela, está o Museu Nacional. Parece um óvni. E tem uma rampa terrível, sabe? Mas tem boas exposições lá. Na frente tem uns lagos verdes e alguns bancos enormes, em que esperam que a gente sente debaixo do sol. Eu estive ali na primeira noite que passei em Brasília. E essa caixa acústica é a Biblioteca Nacional. A Biblioteca tem o nome do Brizola, mas ninguém sabe disso. E ninguém empresta livro lá. Problema de licitação, algo assim. Há mais de cem mil livros lá e ninguém pode ler. Em Brasília, as pessoas sonham tanto que às vezes se esquecem do motivo de estar sonhando. Aí fazem bibliotecas antes de ter livros. Eu uso como lan house. Essa ruazona que você vê é o Eixão. O lado esquerdo leva pra Asa Norte, e o direito pra Asa Sul. Embaixo dela fica o Setor Mendigos. Tô brincando, é a Rodoviária do Plano Piloto. É um caos aquilo lá. O governo não tem dinheiro para investir em transporte público. Do lado esquerdo é o Conjunto Nacional. É só um shopping, não tem nada arquitetônico lá. E atrás dele é o Teatro Nacional. Coisa do Niemeyer também. Há umas rampas perigosas. Eu vou lá assistir a Orquestra Sinfônica de graça. E do lado de cá do Eixão, mais perto da gente, não tem muita coisa. À esquerda e à direita são os hotéis. As ruas são iguais dos dois lados. E essas obras aí na nossa frente são para fazer uma praça com uma fonte. Mais coisa para os turistas. É bonita a nossa cidade. Eu ficaria mais tempo aqui em cima. É uma pena que não esteja anoitecendo. Garanto que ficaria ainda melhor. Eu queria te dizer que ainda não entendo totalmente isso daqui – não sei ainda o que é Brasília. E, por isso mesmo, não posso dizer que a amo. Mas aqui, do alto da Torre, a gente até que namora.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 09/08/2011
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