NOSSA CASA

Nossa Casa.

Guel Brasil

No terreiro, uma paiada coberta com folhas secas de Ouricuri, e ali era ponto de encontro de algumas cabeças de gado que iam ruminar o que tinham comido ao longo do dia. O pé direito de altura mediana, suportava um estirão onde meu pai guardava toda a nossa traia, que era utilizada na lida do dia a dia: sela, cangalha, panicum e bem ali no cantinho um pilão de três bocas, feito de sucupira, e nele mamãe tirava: a palha do arroz tirava fubá do milho, e o que eu mais gostava era da paçoca de bofe de boi frito na gordura de porco ao ponto de pilão, não ao dente.

Bem ao lado da paiada o pé de Umbu frondoso que dava bons frutos, chovesse ou não chovesse. A lembrança maior é do carro de boi, que quando saí ainda estava lá, encostado embaixo do pé de Umbu aos poucos sendo carcomido pelo tempo; papai, o velho carreiro, já não tinha mais forças para lidar com os bois, e os filhos, que sumiram no oco do mundo, não quiseram aprender a profissão de carreiro. Não muito longe d’ali na planície do serrado via-se o nosso cemitério, que hoje quase não se vê, tombado pelos maus tratos; a cruz de pau-d’arco, nem sei como ainda está de pé, serve como ponto de referencia para retirantes, e de poleiro para os urubus.

Hoje, a ausência das pessoas traz uma lembrança muito triste, principalmente pra quem aqui viveu um dia. O silencio é contagiante, quase uma prece que a própria natureza faz questão de quebrar, com a algazarra das corruíras que estão morando no oco do moirão, e o intermitente canto das cigarras que se ouve ao longe.

Tem-se até a impressão de ouvir as vozes das crianças brin-

cando de roda no terreiro da palhoça. Uma pintura na tela do tempo e do espaço, sem muitas variações de cores.

Infelizmente não posso voltar o tempo; não tenho esse direito. O que me resta fazer agora, é dar as costas pro passado porque a vida continua, embora saiba que minhas raízes estão fincadas nesse chão; queira Deus me torne parte dele um dia!.....