Santa ingenuidade
Por um breve período, quando eu tinha por volta de cinco anos de idade, saímos da fazenda e fomos morar em Bandeirantes, na época conhecida como Colônia Bandeirantes, pois ainda não era um município. Lugar pequeno em que todos se conheciam e as famílias seguiam o ritmo próprio daquela época, em que os mais novos respeitavam os mais velhos e os mais velhos se faziam respeitar.
Minha mãe tinha uma vizinha, dona Esperança, a quem muita estimava e com a qual mantinha uma amizade sincera, embora dificilmente uma visitasse a outra, provavelmente porque ambas tinham muitos filhos e não sobrava tempo para visitas. Entretanto, sempre que uma fazia uma “novidade” como um doce, uma geléia, um bolo, enviava um pouco para a outra, num gesto de carinho e gentileza. A presenteada sentia-se na obrigação de devolver o recipiente em que veio o agrado, com outro agrado, jamais vazio. E eu era a encarregada de levar a novidade ou devolver o agrado. Minha mãe me ajudava a passar pela cerca que separava os nossos terrenos, e lá ia eu, feliz da vida, porque sabia que ia comer queijo com açúcar! Que delícia! Eu adorava!!! Queijo bem branquinho, bem fresquinho, e com açúcar! Dona Esperança sabia o quanto eu gostava e parece que até o pratinho em que ela servia era o mesmo sempre.
Algumas vezes em que eu lá estava chegava um dos seus filhos, o Adelson, já homem feito, solteiro e com fama de namorador. O rapaz me queria bem, me tomava nos braços e dona Esperança já brigava com ele, dizendo brava:
_ Não beije minha branquela!!! Sabe lá onde tu andaste pondo essa boca!!!
E eu, na minha ingenuidade, olhava para ele e pensava: Puxa vida! Ele é tão grande... será que ainda põe sujeira na boca?!!!