Eu jornalista
No princípio, era o caos. Disso se conclui que não há profissão mais antiga que a de jornalista. E desde os primórdios do mundo eles se multiplicaram tanto que hoje quase não se encontra mais lugares disponíveis para que trabalhem. Posso me enxergar mandando 200 currículos entre os meses de setembro e novembro de 2009 em Curitiba – sim, eu contei. Mandava pra quem precisava e me oferecia para quem não precisava. De vez em quando me cansava de ser jornalista e tentava uma vaga de digitador ou auxiliar de escritório.
De todas essas tentativas, não houve uma que me trouxesse uma entrevista. Houve uma vaga muito boa como diagramador, e bem perto de casa. Eu tinha experiência – diagramei o jornal do Hospital de Clínicas. Deram-me esperança de consegui-la. Mas o tempo passou e nada aconteceu. Participei do processo seletivo para o banco de talentos da Gazeta do Povo. A primeira parte era virtual, com perguntas sobre atualidades no Paraná. Passei todas as respostas para uma amiga que não era de lá. Ela passou, eu não. Ah, estava escrito: eu deveria ir para Brasília.
E eu vim, sem saber até quando conseguiria ficar. Anotei o endereço de todos os veículos de comunicação que descobri e fui em cada um deles entregar meu currículo. Na Tribuna do Brasil, meu currículo foi recebido pelo porteiro. “Eu que recebo sim. Pode deixar que passo pro pessoal”. No Jornal de Brasília, o chefe de redação colocou meu currículo numa caixinha de candidatos. “O seu é o segundo. Não deve demorar”. Está demorando até hoje. No Alô Brasília, fui recebido com expectativa. “No final do mês vai sair um pessoal, e então a gente já te chama”. Ainda não chamaram. No Correio Braziliense, tentei uma vaga específica na editoria de saúde, na qual eu tinha alguma experiência. “Estamos com nossos quadros cheios. Houvesse vaga, era sua”.
Nas assessorias de comunicação, a coisa era ainda pior. Lembro em especial de uma na torre norte do Shopping Brasília. Bati na porta e ninguém atendeu. Resolvi entrar. Não havia ninguém na recepção. Na sala seguinte, duas ou três pessoas trabalhavam em frente ao computador. Perceberam que eu cheguei, deram uma olhada, e voltaram a trabalhar. A moça da limpeza também me viu e fez a mesma coisa. Eu queria entregar um currículo para trabalhar num lugar como aquele. Voltei à sala da recepção. Deixei um currículo em cima da mesa e sai. Ao menos seria visto – e depois, provavelmente amassado e jogado no lixo.
E assim eu passava os dias. Saia do P Sul e ia para o Plano Piloto entregar currículo para pessoas que não precisavam de jornalistas. Foi assim até o dia em que minha amiga foi chamada em um concurso público e largou a vaga que ocupava numa consultoria. Fui indicado, fiz um teste e, depois de mais de um ano, voltei enfim a trabalhar como jornalista.
Ora, não acho que tenha sido mais difícil para mim do que é para o resto dos jornalistas que chegam ao mercado do trabalho. É por isso que as 119 vagas para jornalistas oferecidas pela Empresa Brasil de Comunicação devem transformar Brasília numa Meca do setor. E é por isso que, além de estudar, precisamos orar, orar muito.