Mente insana em corpo são

Mente insana em corpo são.

O Brasil inteiro ficou chocado com a chacina de Realengo, no Rio de Janeiro. Não são apenas as famílias que ficam se perguntando o porquê dessa barbárie, mas todos nós procuramos algo que justifique uma atrocidade dessas praticada por mãos humanas. Acontece que a questão não está nas mãos, está no pensamento, num cérebro que é mantido pelos impulsos que recebe na vida. Eu não sou psicóloga, não tenho conhecimentos científicos para analisar o comportamento humano. Mas de uma coisa eu tenho certeza: as pessoas se espelham naqueles que as rodeiam, que estimulam seus sentimentos mais lindos ou mais torpes, que fazem aflorar a natureza dos sentidos, das ações, dos pensamentos. A família sempre é o esteio que acomoda o corpo e a alma de seus membros. Depois dela, vem a instituição religiosa e depois a educacional. A escola, assim como a igreja é um ambiente sagrado. Na igreja, abrimos nossos corações para Deus e buscamos a força da fé. Na escola, abrimos a nossa cabeça para o mundo, e mais ainda, aprendemos que o caminho para abrir nossos corações para o outro... a escola é um templo de convivência, que infelizmente há muito tem sido profanado. Cristo, quando saiu pelo mundo para levar a palavra de Deus, não se vestiu de autoridade religiosa. Ele se proclamou Mestre... E mostrou ao mundo a força da fé e da humildade, razão pela qual morreu covardemente assassinado pelas mãos daqueles que não acreditaram nas suas palavras. Foi preciso que ressuscitasse para que acreditassem Nele. E hoje são poucos aqueles que têm o perfil de mestre e que sabem chegar ao coração de seus alunos. Por isso é que muitas vezes o ódio e a indiferença também se ensina dentro dos muros de uma escola. E a ação formadora, transformadora que é o objetivo da educação pode ser deformadora, principalmente se a família alienada não perceber a ação da educação e as conseqüências dela na formação de seus filhos.

Nossas crianças do Realengo não irão voltar jamais... Nem aquele que acreditou na fantasia de suas insanidades e quis limpar com sangue o conflito de seus sentimentos de revolta com a vida e com o mundo. Acredito que ele também é uma vítima da frieza da nossa sociedade, que se esqueceu como é olhar o outro e ver aflição no seu olhar, de que é preciso compaixão com aqueles que estão à margem da vida, que a convivência e o carinho talvez sejam o melhor remédio para as doenças sociais que abalam o mundo. Nenhuma revolta brota num ser humano por nada. O coração tem que ser tocado para que os sentimentos brotem, e eles podem brotar muitas vezes em forma de espinhos. Espinhos do preconceito, do descaso, da humilhação, da indiferença. E quando esse coração passa a dominar o cérebro com o veneno que brota dessas feridas, aí então temos as vítimas, muitas vezes inocentes.

Não podemos ficar julgando e apontando o dedo, buscando os culpados. Os culpados somos todos nós, que fazemos de conta que está tudo bem, que o mundo continua o mesmo lá fora, quando sabemos que estamos construindo uma sociedade egoísta e individualista, cada um procurando cada vez mais o seu crescimento econômico e social, se isolando naquilo que virou quase uma obsessão: lucros e empreendimentos para sedimentar propriedades. Os bens de uso material vão passando por cima, e cada um vai construindo sua torre, seu forte, cercado de muros e cercas elétricas, isolados nessa sociedade cheia de perigos que nos amedronta. Até o dia em que temos que ir lá fora pra luta, e repente, a dor atravessa a nossa rota. Só iremos ficar bem com a vida e com o mundo, se a nossa consciência tiver certeza de termos cumprido com honra o nosso papel em família. Do contrário, vamos passar o resto da vida procurando culpados para as nossas culpas.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 07/08/2011
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