CILADAS DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA
Ia ter uma grande festa no Colégio, então o diretor (francês) estava lá rascunhando os dizeres para um cartaz bem chamativo a ser colocado no hall de entrada. O bonito desenho de autoria de um aluno foi escolhido através de um concurso organizado pela professora de Artes. O mesmo, em tamanho reduzido, seria enviado como convite às famílias dos atuais alunos, dos ex-alunos, aos professores que por lá já trabalharam, aos amigos e a membros da comunidade francesa local. Assim que terminou de escrever o texto – em francês e em português – ele me chamou para dar uma olhada, queria ter certeza de que a tradução estava correta. Comecei a ler e logo vi que alguns trechos precisavam ser modificados. Ele dirigia o convite aos ‘antigos’ alunos, ‘antigos’ professores, ‘antigas’ famílias, etc... exatamente como havia escrito em francês. Expliquei-lhe que nós costumamos dizer ex-alunos, ex-professores, do mesmo modo que falamos em ex-marido ou ex-mulher. É mesmo, ele concordou, dizendo que ia corrigir. Quando me chamou novamente, comecei a ler e num determinado momento não contive um ataque de riso. Sorte que ainda não tinha sido impresso. O homem ficou surpreso, está rindo de quê?...
Na lista dos convidados, ao lado de alunos, pais, professores, ex-alunos, ex-professores... encontrei a mais esdrúxula expressão, que jamais teria passado pela minha cabeça: EX-PAIS!
Foi preciso dar-lhe explicações, para que, enfim, ele compreendesse. Tomei-o como exemplo. Como era casado e tinha filhos, mesmo depois de sua morte já velhinho, embora tenha sido ex-diretor, continuaria a ser eternamente PAI. E jamais um ex-francês!