Tu pisavas nos astros
                        distraída...



               E hoje quando do sol a claridade
               Cobre meu barracão sinto saudade
               Da mulher pomba-rola que voou.

                                   Orestes Barbosa


          Este mês, ou mais precisamente no dia 15 de agosto de 2011, faz 45 anos que Orestes Barbosa morreu.
          Não sei se em tempos de pagodeiros  analfabetos, ofendendo as mulheres com suas "músicas" imorais, vale a pena lembrar um compositor romântico, ainda que para recordar-lhe a partida. 

          As mulheres, nas canções do Orestes, foram sempre tratadas com dignidade 
          Mas deixemos a "música" pagodeira de lado, e cuidemos de homenagear Orestes Barbosa, no aniversário de sua morte. 
          Ele nasceu na Aldeia Campista, zona norte do Rio de Janeiro, no dia 7 de maio de 1893; e morreu em agosto de 1966.
          Como homenageá-lo senão recordando algumas de suas mais conhecidas e mais belas composições.
          Amigo das serenatas, Orestes Barbosa cantou o violão,  ocompanheiro inseparável dos seresteiros.
          E fê-lo numa canção que diz assim: "Meu companheiro dileto,/ Violão, és meu afeto,/ És minha consolação./ De tanto roçar meu peito/ Tens hoje o timbre perfeito/ Da voz do  meu coração."

           Lembram-se de Suburbana?  Nessa canção, Orestes chama as estrelas de - "lágrimas doiradas/ No lenço azul lá do céu." E conclui: "Estrelas são confidências,/ Estrelas são reticências/ Do meu romance e do teu."
          E Arranha-céu? Ah! que lindo! - "Cansei de olhar os reclames/ E disse ao peito: não ames/ Que o teu amor não te quer./ Descansa. Fecha a vidraça/ Esquece essa desgraça/ Esquece essa mulher."
          Prossiga o leitor relembrando as letras de A mulher que ficou na taça, Serenata, Quase que disse agora, Cabelos brancos e outras canções-poemas que eternizaram o Orestes.
 
          Faço, porém, aqui, uma homenagem especial a esse compositor de tantas e tão lindas canções, demorando-me um pouco em Chão de estrelas, considerada pelos críticos sua obra prima. 
          Começo - e isso  seria inevitável - chamando o poeta Manuel Bandeira para nossa conversa. E por uma simples e conhecida razão: Bandeira, por diversas vezes, declarou-se apaixonado por este versinho de Chão de estrelas: "A porta do barraco era sem trinco/ E a lua furando o nosso zinco/ salpicava de estrelas nosso chão/ E tu pisavas nos astros distraída...
          Corre o mundo a opinião de Manu, segundo a qual,  "E tu pisavas nos astros distraída..."  e o verso "mais bonito de nossa língua".
          Vejam o que o festejado vate pernambucano disse sobre esse verso do Orestes: "[...] nunca se endeusou tanto uma mulher como naquelas cinco palavras."
          Confessou Bandeira, publicamente, o seguinte: "Sei de muito poeta (Onestaudo de Penafort é um deles e eu sou outro) que se rala de inveja porque não é o autor daquele verso."
          Não há, portanto, como homenagear Orestes Barbosa sem lembrar Chão de estrelas e  Manuel Bandeira.
          Sobre Orestes, escreveu o rigoroso crítico Agripino Grieco: "Há, nos seus poemas, um azul, uma doçura lunar insuperável. E quando não posso olhar a lua no Céu, vou procurá-la, seguro de que não a acharei menos bela, nas estrofes de Orestes Barbosa." Palavras do temido Grieco. Dizer mais o quê?
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/08/2011
Reeditado em 28/11/2019
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