A POESIA DO ASFALTO

As imagens das estradas me acompanham. Mesmo aqui sentado, digitando, e mesmo de olhos abertos, o milagre da mente me faz assistir como se um filme fosse, as imagens da estrada, a faixa sendo engolida pela capô do carro que avança sobre o negro do asfalto. O ronco do motor acelerado e as vegetações das margens da estrada passando, rápidas, como riscos, ficando para traz.

Meus olhos passeando pelos montes ao longe, imagens de cinema, poemas nas fotografias que minha memória guarda e faz assim desfilar enquanto escrevo. Subidas e descidas, longas retas planas e o carro avançando, avançando, soberbo e destemido.

Uma curva se aproxima, o controle dos pedais, velocidade reduzida, curva tomada e acelerador apertado e o capô engolindo o asfalto. Liberdade, aventura e emoções caladas, que só a estrada, o automóvel e o asfalto me permitem.

Chegada prevista, tempo cronometrado e então avisto ao longe o sinal da pequena cidade espalhada entre os morros e as matas. A torre da igreja fincada no alto e desenhando o céu é o que vejo primeiro. Chegada na área urbana, pessoas ao lado, carros, caminhões e carroças dividem comigo o caminho. Bares, lojas, muita gente indo e vindo, as calçadas mal feitas e muita vida transitando.

Olho o painel do carro, ali, intacto, soberbo, implacável. Toco o plástico preto do painel, assim como tapinha de carinho, como se fosse o ombro de um companheiro e o agradeço pela companhia e pelo prazer que compartilhamos, como se o automóvel que dirijo tivesse vida e sentisse as mesmas minhas emoções.

Continuo aqui, sentado, um teclado na minha frente, meus dedos passeando pelas teclas, mas continuo assistindo as imagens das viagens, as emoções e toda poesia escrita nas cores tão diversas dos caminhos por onde tenho andado.

E o filme da memória continua. Paro num posto. Enquanto o frentista alimenta meu parceiro, eu bebo um café quente, forte e me preparo para continuar. Retomo a estrada, o asfalto, as faixas passando e meu parceiro atendendo aos meus desejos. Minhas vontades de mais estrada. E meus olhos querendo mais imagens, para ver e minha mente registrar e guardar, para que eu assista em outros momentos como esse.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 07/08/2011
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