O CAMINHO
Acordei hoje introspectiva, não tomei café ainda, vim direto pra o computador pra escrever um pouco. Sinto um vazio dentro de mim, talvez porque ainda não tenha tomado café,... é fome. Mas não sejamos minimalista, essa fome que sinto não é de pão, leite, fruta, gelatina, biscoito, ou mais lá o quê... É algo que vai um pouquinho além. É uma fome de carinho, de companhia, de afeto.
Eis o grande problema da vida moderna, a gente vai caminhando cada vez mais sozinho na trajetória dela, vida de poucas janelas, vida de poucas cadeiras na calçada, de poucos vizinhos amigos, não importa se está rodeado de gente, é uma solidão interna, que não se explica, apenas se sente, que vai enclausurando a alma em um quarto fechado que ela mesma cria nas tramas do tempo e do medo de se envolver e se entregar. Aí, pra não enlouquecer de vez, mergulha no oceano de lembranças e saudades...
E foi assim que despertei nessa manhã, com uma fome tremenda de meus amigos de infância que se perderam no tempo; daquele amor que não tive mas que desejei a adolescência inteira; do colo da mãe; do meu filho bebezinho nos meus braços, quando ainda era somente meu; uma saudade intensa e vibrante de mim rodeada de todas as minhas fantasias... essa fome na alma me impulsiona a escrever, não porque possua algum talento, mas pela necessidade de não enlouquecer, de extravasar o ser conturbado que grita dentro de mim.
O caminho da vida é uma longa jornada, sozinha ou acompanhada a gente segue em frente, porém há horas em que a estrada íngreme e acidentada nos faz frágeis e dependentes de alguém que nos dê a mão e caminhe junto... nessas horas é que se sabe o quanto é bom ter uma companhia, mas não qualquer uma, aquela especial, com quem se pode abrir e confiar... só que ninguém confia mais em ninguém, as pessoas seguem juntas numa multidão, mas não se conhecem, não se veem, não sabem umas das outras, ainda que sigam na mesma direção: é uma solidão entre gentes, que nos traz um vazio, uma falta... é a tal fome que falei anteriormente, que uns saciam na bebida, outros nas drogas, outros no sexo, e outros, como eu, vêm para o computador, escrever. A fome permanece, mas saem textos bons de se ler, quando esse solitário faminto tem algum talento.
Irene Cristina dos Santos Costa – Nina Costa, 07/08/2011