SoliLara
SoliLara foi um apelido que ganhei de uma pessoa que dizia não existir um nome mais bonito para mim. Ele dizia: Este nome tem poesia. (SunnyLóra)
Quando a Rodovia Norte Sul foi construída, eu fui uma das primeiras a atravessá-la e a estrada tornou-se uma amiga muito íntima e querida, para que eu chegasse ao trabalho com a certeza de ter ouvido uma música a mais e ter percorrido mais alguns metros até ao oásis que eu amo e ajudei a construir. A rodovia era parte de uma fazenda, dizem. A primeira vez que cortamos caminho para chegar até Vitória foi bem tarde, num veículo partilhado por muitos de nós, em eternas horas extras. Fiquei meio assustada quando descemos uma ladeira de terra e pedra. Algum tempo depois, a Rodovia tornou-se uma espécie de passeio para mim e foi nela que experimentei todos os sentimentos possíveis.
Do cansaço à saudade; da solidão e da emoção da música; do pensamento vago à preocupação extrema; da pressa de chegar, da preguiça de ter que chegar; da força do amor brotando; das lágrimas de alegria e de tristeza; da solidão nos engarrafamentos habituais; das dúvidas, das certezas.
Foi nela que eu chorei de saudade e de dor, quando nem enxergava a estrada por causa dos olhos molhados. Foi nela que virei à esquerda para abraçar o amor e sorri com a força de quem sabe como se faz para sorrir. Foi nela que vi nascer lojas, shoppings, edifícios altos e outros baixos, jardins e árvores plantadas à beira da estrada.
Um dos desafios dos desbravadores da nova rodovia era sair correndo para o melhor lugar de colocar o seu comércio. Um dia, uma oficina mecânica de motos foi aberta. Nada demais nela, com a exceção de um manequim, um dos “homens” mais bonitos que já vi na minha vida. Quando chovia, o dono o vestia de capa e guarda-chuva. Quando fazia sol, uma bermuda colorida e um boné lindo era colocado no manequim. Vi este “homem” vestido de terno, gravata, roupa de mendigo, torcedor com bandeira do Brasil. Eu ficava olhando aquela visão magnífica. Mas como, se era apenas um manequim? Com certeza não era de carne e osso mas nem por isso deixava de me dar emoção ao vê-lo, obediente e impassível na porta de entrada da oficina.
Quando eu amanhecia amando com todas as forças que um coração sente em estado total de torpor e paixão, a rodovia ouvia música a um volume inaceitável, mas para mim era tudo de bom. As janelas do carro fechadas e eu ouvindo a música, transportando-me ao beijo imaginário, aos sorrisos mais lindos, mais queridos.
Não posso misturar regras de trânsito - que sigo com cuidado- com as minhas emoções. Mas que hoje eu vou fazer uma visitinha ao manequim, isso vou! Quem sabe o dono da oficina me convida para um cafezinho...
Bom domingo de sol de agosto.
Imagens Google
SoliLara foi um apelido que ganhei de uma pessoa que dizia não existir um nome mais bonito para mim. Ele dizia: Este nome tem poesia. (SunnyLóra)
Quando a Rodovia Norte Sul foi construída, eu fui uma das primeiras a atravessá-la e a estrada tornou-se uma amiga muito íntima e querida, para que eu chegasse ao trabalho com a certeza de ter ouvido uma música a mais e ter percorrido mais alguns metros até ao oásis que eu amo e ajudei a construir. A rodovia era parte de uma fazenda, dizem. A primeira vez que cortamos caminho para chegar até Vitória foi bem tarde, num veículo partilhado por muitos de nós, em eternas horas extras. Fiquei meio assustada quando descemos uma ladeira de terra e pedra. Algum tempo depois, a Rodovia tornou-se uma espécie de passeio para mim e foi nela que experimentei todos os sentimentos possíveis.
Do cansaço à saudade; da solidão e da emoção da música; do pensamento vago à preocupação extrema; da pressa de chegar, da preguiça de ter que chegar; da força do amor brotando; das lágrimas de alegria e de tristeza; da solidão nos engarrafamentos habituais; das dúvidas, das certezas.
Foi nela que eu chorei de saudade e de dor, quando nem enxergava a estrada por causa dos olhos molhados. Foi nela que virei à esquerda para abraçar o amor e sorri com a força de quem sabe como se faz para sorrir. Foi nela que vi nascer lojas, shoppings, edifícios altos e outros baixos, jardins e árvores plantadas à beira da estrada.
Um dos desafios dos desbravadores da nova rodovia era sair correndo para o melhor lugar de colocar o seu comércio. Um dia, uma oficina mecânica de motos foi aberta. Nada demais nela, com a exceção de um manequim, um dos “homens” mais bonitos que já vi na minha vida. Quando chovia, o dono o vestia de capa e guarda-chuva. Quando fazia sol, uma bermuda colorida e um boné lindo era colocado no manequim. Vi este “homem” vestido de terno, gravata, roupa de mendigo, torcedor com bandeira do Brasil. Eu ficava olhando aquela visão magnífica. Mas como, se era apenas um manequim? Com certeza não era de carne e osso mas nem por isso deixava de me dar emoção ao vê-lo, obediente e impassível na porta de entrada da oficina.
Quando eu amanhecia amando com todas as forças que um coração sente em estado total de torpor e paixão, a rodovia ouvia música a um volume inaceitável, mas para mim era tudo de bom. As janelas do carro fechadas e eu ouvindo a música, transportando-me ao beijo imaginário, aos sorrisos mais lindos, mais queridos.
Não posso misturar regras de trânsito - que sigo com cuidado- com as minhas emoções. Mas que hoje eu vou fazer uma visitinha ao manequim, isso vou! Quem sabe o dono da oficina me convida para um cafezinho...
Bom domingo de sol de agosto.
Imagens Google