A FILA DA FELICIDADE

Eu também estou aqui na fila do destino esperando minha quota de felicidade e não arredo pé do meu lugar a custo conquistado. Contudo já não me é possível avistar onde ela começa e onde termina, tão incomensurável ela me parece. Percebo nessa fila imensa, que não para de crescer a todo instante, grande quantidade de pessoas ansiosas, tristes, chorando, aguardando desesperadamente sua vez de ser atendidas, algumas clamando loucas ao céu, arrancando os cabelos tamanho é o seu desejo de ser feliz. São homens e mulheres que estão há muito tempo aguardando seu momento de ser feliz, tantas já desanimadas porque é uma fila lenta e a vez de cada um demora demais a chegar.

É possível avistar, em meio à quilométrica fila, muita gente tomada pelo arrefecimento, meio combalida, os rostos apagados e provavelmente sem qualquer esperança de conseguir chegar a tempo de, pelo menos, vislumbrar essa tal felicidade, de, se for possível, ter o prazer de vê-la de perto, praticamente sem fé pelo chão do caminho, olhando lá do fim para o longínquo início, tendo a melancólica impressão de que a fila não anda; noto como são inúmeros os desistentes à medida que o tempo vai passando, e assim tem sido ao longo dos anos porque a espera é entediante e lúgubre, cansativa, e a certeza de chegar lá não é absoluta, pelo contrário, é efêmera, tênue, então esses todos acharam melhor desistir de ser felizes, e sumiram.

Embora dia após dia os abatidos desanimem e, cabisbaixos, abandonem a fila da felicidade, mesmo que ela continue a crescer, não saia do marcha lenta marcando passo e minha vez demore, permanecerei firme plantado no pedaço dela duramente conquistado pela minha vontade de também ser, ao menos, um pouco feliz, pois é evidente que ainda acredito na possibilidade de alcançar esse momento vitorioso. Não, eu não saio do meu lugar nessa fila, e para ser feliz eu aguardo minha vez paciente, tranquilo, sofrendo ou não a incerteza, mas consciente de que há possibilidades, sim, a vida nos surpreende. Não saio da fila da felicidade mesmo que, quando chegar minha vez, eu não esteja em condições de desfrutá-la

Apesar dessas desistências, dos abandonos constantes e diários ao longo dessa estafante espera, que são em número bastante absurdo,

pesares do pesares, a fila em busca da felicidade aumenta a cada dia e os que preferem abdicar do seu momento estranham a alegria de quem está lá atrás, dos que chegaram agora, há tão pouco tempo e acham ser plausível atingir seu objetivo antes da última hora, antes que o aguardar se torne algo insuportável. Aqueles, sem dúvida desestimulados, tomados pela angústia e pela amargura, riem sarcásticos destes, de sua esperança sem tamanho capaz de se tornar desilusão em pouco.

O mais interessante nessa fila parada e um tanto desestimulante, reconheçamos, é que ainda não vi ninguém voltar lá da frente para dizer, serelepe de alegria, que recebeu a parte que lhe cabe na felicidade humana. Ninguém mesmo, é estranho isso. Parece que quando conseguem, se é que realmente conseguem, não são mais vistas, como se fosse a ultima coisa a pegar antes de partir para algum ponto da existência indeterminado, para raros privilegiados.

No entanto, sem me abalar, não importa o quanto canse ou me irrite com a demora demasiada, cá também estou eu a vivenciar essa espera para agarrar meu quinhão de felicidade prometida pelo destino. Sou carne de pescoço quanto a esse aspecto, se tenho direito aguardarei. Decerto minha vez, um dia, haverá de chegar

por isso permaneço na fila da felicidade, desejo ser também feliz tanto quanto todos os meus semelhantes.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 06/08/2011
Código do texto: T3144138
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.