PALAVRAS QUE ME CHOCARAM

 

 

Em meus primeiros tempos na França, eu não cansava de olhar os grandes cartazes de propaganda nas estações do metrô. Bonitos, com belas fotos, anunciavam uma série de coisas: viagens, filmes em cartaz, peças de teatro, roupas da moda ou produtos alimentícios. Quase todos tinham uma frase de efeito para chamar a atenção, que de tanto vê-las cheguei a decorar mas com o passar dos anos não lembro mais. Recordo-me apenas de algumas palavras que me chocaram na época. Junto a uma xícara de fumegante café com leite vinha escrito algo como “Seu café da manhã ficará muito melhor com Nescorée”. Estranho, eu pensava, conheço Nescafé... será que aqui ele tem outro nome?...  Curiosa, fui xeretar no supermercado e lá encontrei não só latinhas de nescafé, como do tal nescorée. O rótulo dizia que o produto era feito de chicorée, quer dizer, de chicória! Aí é que fiquei mais embaralhada. Leite com chicória? No café da manhã?... Argh! Foi preciso pesquisar mais até descobrir que torrando raízes de chicória eles fazem uma bebida parecida com o café...

 

Em outros cartazes apareciam pratos de comida ou bebidas, um vinho por exemplo, acompanhados da expressão chamativa: “goût de terroir”. Se tinham esse gosto, deviam ser especiais! Minha cabeça imediatamente associou (como acredito que qualquer brasileiro faria) a ‘gosto de terror’, o que na verdade não é nada disso. É a comida típica de uma determinada região, ou rural, ‘da terra’. A cozinha mineira, assim como a baiana, têm goût de terroir...

 

No entanto, aqui em casa aquela associação ficou para sempre. Quem não gosta de beterraba diz que ela tem goût de terroir, de terror mesmo. Ou quer sugerir que seu gosto forte e especial é ‘de terra’...