Bradd Peter vai ao Terapeuta de Santo Amaro

Bradd Peter vai ao Terapeuta de Santo Amaro

Pois não é que ele, a Máquina de Feromônios de Charky City, a Sexy Machine de Big River Sulist, o Leão da Savana da Groenlândia, o grande Bradd Peter ficou pra baixo? Isso mesmo, o personagem tão bem criado e retratado pelo meu interino (*1) Peter Hurlley estava deprimido.

Como todos que se deprimem em Charky City, Bradd foi ver Tiburcio Mascarenhas, o Terapeuta de Santo Amaro (*2).

- Seu Tibúrcio, tem um alemão coroa todo metido a mauricinho ai na frente querendo falar como senhor – disse Amarildo, o secretario do Terapeuta de Santo Amaro. Parece um clone do Roberto Justus o veterano!

- Marcou consulta o vivente, Amarildo?

- Não, chegou pedindo atendimento de urgência.

- Tá, manda ele entrar lá no galpão e me esperar sentado no mochinho, mas vai avisando que atendimento de urgência é em dobro e pagamento antecipado.

Amarildo sai, o Terapeuta puxa a descarga, limpa-se e se dirige pro galpão (isso mesmo gente, o Terapeuta e seu secretario são íntimos de usar WC com a porta aberta).

Tiburcio entra no galpão e vê Bradd Peter sentado no mochinho. Observa-o bem e tasca, objetivo:

- Buenas cuera, vai logo desembuchando o que te estressa e te deprime.

- Terapeuta de Santo Amaro, pela primeira vez na vida estou com a minha autoconfiança abalada!

- Autoconfiança abalada... Sei. Continua.

- Minha mulher já não me bajula mais como antes.

- Como assim, tchê bagual? Explica.

- Ela não prepara mais o café quando chego de madrugada, não esquenta mais o almoço de tarde, já não se dedica mais pra mim como antes.

- Mas deixa eu vê se te entendi cuera: tu almoças de tarde e chega em casa de madrugada... O que tu faz na vida? Trabalha na noite?

- Não seu Terapeuta, eu sou o famoso Bradd Peter, o Leão da Savana da Groenlândia, a Maquina de Feromônios de Charky City! Meus horários de caça e reprodução me obrigam a trocar dia pela noite!

- Maquina de Feromônios... Leão da Savana... Sei. Porisso que as vacas, as porcas, as galinhas, as gatas e as cadelas daqui da fazenda estão todas na volta do galpão querendo entrar e dando trabalho pro Amarildo. Continua.

- Mas veja o senhor Terapeuta, a minha mulher, aquela que deveria agradecer todo dia a todos os deuses do universo pela glória de ser minha esposa, está deixando a desejar. Isso nunca me aconteceu, estou deprimido, não sei como lidar com esse fato.

- Tchê, não vou te engambelar, vou dizer na lata: teu problema é nas guampas, nos cornos.

- Quer dizer que o meu problema é algo que ocorre só na minha cabeça, uma imaginação?

- Nem ocorre só na cabeça e nem é imaginação. Tô vendo que a tua vaidade é maior que os teus olhos vivente. Explico: na cabeça estão as guampas que a tua leoa está te colocando, o que te transforma em touro e ela em vaca. E não é imaginação, mas sim o Ricardão. Entendeu agora ou quer que eu desenhe no quadro negro com giz amarelo?

- Mas o que é isso, o senhor está enganado! Ora, eu, Bradd Peter, a Sexy Machine de Big River Sulist, chifrudo? Isso nunca aconteceu nem vai acontecer!!!

- Olhai, mecanismo de negação do indivíduo! Até aquela naba do Freud já sabia ver isso em mil novecentos e começo do mundo! Na verdade tu não tá deprimido cuera, tu está é negando o que está vendo porque o que tu está vendo igualmente nega a imagem que tu tem de si mesmo e daí tu nega o que nega a tua autoimagem, entendeu?

- Não entendi bosta nenhuma Terapeuta!

- Tá, explico direto, na lata: tu sabes que é corno, mas não quer dar o braço a torcer. E era isso cuera, caso encerrado, consulta terminada. Boa noite pro gaiteiro, passa a régua e fecha a conta.

Bradd, pela primeira vez na vida, começa a chorar, arrasado. O Terapeuta se enfurece:

- Mas que barbaridade, índio macho veterano chorando em cima do mochinho! Amarildo, vem cá. Pega esse dai e solta lá no meio da bicharada pra vê se ele recupera a autoestima. Sexy Machine... Sei. Leão da Savana... Vamos ver!

(*1) – É um guri daqui de Charky City que escreve tri bem e que me substitui nas férias.

(*2) – Tá, isso mesmo, sou fã do Veríssimo e me inspirei no Analista de Bagé. Satisfeito? Então lê essa crônica e não perturba.

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Era isso pessoal. Toda sexta, final de tarde, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 06/08/2011
Reeditado em 09/08/2011
Código do texto: T3143333
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