Meu primeiro suspiro

 

 

Sempre fui louca por clara batida, que também chamávamos de suspiro, do mesmo modo que o verdadeiro. Como tínhamos galinheiro em casa era fácil, ovos fresquinhos nunca faltavam. E lá estava Mamãe batendo claras, o que servia de complemento para sobremesas: morangos com suspiro, figos com suspiro, ‘banana de caldinho’ com suspiro (que ia ao forno), suspiro com goiabada ou até mesmo só o suspiro. E um dia chegou a hora da mocinha aqui aprender. Puseram na minha frente um prato fundo com as claras, deram-me um garfo e disseram que pusesse o açúcar aos poucos. Duas colheres de sopa para cada clara. Mas só depois que elas estivessem bem firmes, foi a recomendação. E fiquei sozinha na copa.

 

 

Animada com a novidade, comecei a bater. Bati, bati e nada delas ficarem firmes. Achando que aquilo nunca ia ficar pronto, comecei a por o açúcar. Bati mais um pouco e experimentei. Mole demais, não estava bom. Mais açúcar. Mais batidas. Outra provada. Melhorou, mas continuava molenga. E assim segui, batendo, colocando açúcar e... experimentando. Quanto mais açúcar eu colocava, mais pesado ficava, difícil de bater. Aparência esquisita, no entanto o gosto, hum... já estava pra lá de bom. Tão bom que eu provava cada vez mais.

 

Quando Mamãe reapareceu para examinar minha obra, ficou surpresa ao ver aquele montinho no fundo do prato. Ué, só deu isso?... Tinha tantas claras! Eu nem precisei explicar, ela deve ter compreendido logo...

 

Naquele dia a sobremesa foi de frutas sem acompanhamento, os meninos reclamaram. Só eu comi suspiro...  antes do almoço!