Cidade cara
Alguém andou avisando os jornais de que Brasília está entre as 50 cidades mais caras do mundo – e pela primeira vez. Estamos na frente de Roma, Amsterdã e Viena, a aldeia natal dos Fendrich – e que, segundo o Correio Braziliense, fica na Suécia. Pois ninguém parece ter se espantado com a posição de Brasília. Eu cheguei inclusive a estranhar que estivéssemos atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. Quer dizer que há lugares no Brasil mais caros do que aqui? Aí está a notícia. Verdade é que não morei em nenhuma dessas outras cidades para poder comparar. O máximo que fiz foi morar em Curitiba, cidade que ainda não figura nessa lista, apesar do esforço.
Moro numa quitinete na Asa Sul e pago de aluguel mais ou menos a mesma coisa que minha mãe paga, em Curitiba, por um apartamento com sala, cozinha, banheiro e três quartos – com a diferença de que não pago condomínio. Sua casa não é no centro da cidade, mas também não é muito longe – quatro quilômetros, talvez. Para ir até lá, ela gasta hoje R$ 2,35 de ônibus. E aí está a única coisa que, para mim, ainda é mais barata por aqui, já que para ir até a área central de Brasília eu gasto apenas R$ 2. Isso porque moro próximo ao Plano Piloto. Se fosse em Taguatinga ou Ceilândia, por exemplo, seria R$ 3. Mas caso comparássemos a qualidade do transporte, veríamos que mesmo R$ 2 está acima do aceitável em Brasília – e não deve demorar muito até aumentar.
Como todas as coisas, afinal. Quando me mudei para cá, conseguia almoçar por R$ 6 em um self-service popular no Setor Comercial Sul. Hoje, o mesmo restaurante já cobra R$ 8 – e meu salário continua igual, e a fome também. Existe um outro restaurante no mesmo setor que, para abaixar o preço, abaixou também a qualidade da comida. Mas são poucos os que mantém um preço baixo, e de vez em quando me vejo obrigado a ir em um restaurante por quilo e comer menos do que gostaria. Sei que ainda hoje em Curitiba consigo encontrar dezenas de restaurantes realmente bons, alguns oferecendo limonada grátis, por R$ 5. Por aqui, me contento com alguns poucos que, apesar disso, não me permitem economizar o suficiente para ter o luxo de jantar.
Felizmente, não tenho o hábito de me divertir, pois o custo do lazer é apontado como mais um responsável pela subida de Brasília no ranking. Se pudesse escolher entre passar duas horas no cinema e gastar o mesmo dinheiro comendo decentemente à noite, eu não teria dúvidas e me empanturraria. Meu passeio ao shopping se resume às livrarias e, ainda assim, apenas para olhar.
Dizem que é por causa do poder, que tudo encarece. Sei apenas que, a todos nós, Brasília de vez em quando oferece uma possibilidade de redenção, popularmente chamada de concurso público. E isso inclui até mesmo os jornalistas, que agora se esmurrarão atrás de uma das vagas disponíveis na Empresa Brasil de Comunicação. Como ainda não vi sair nenhum edital com vagas para cronistas, também devo sair candidato.
Isso é, após comprometer um valor não esperado do meu salário para me inscrever.