Um passeio por São Paulo

Era o meu último dia em São Paulo. Eu já vinha me acostumando. Não apenas com a "dura poesia concreta de tuas esquinas e a deselegância discreta de tuas meninas", mas também àquele ar levemente poluído que me fazia congestionar as narinas. Já estava me acostumando àquela correria que reduz homens a máquinas do capital, já não me aborrecia com as filas e tratava os horários de pico com naturalidade, afinal, para um centro-oestino que conseguira aprender a pegar um metrô, qual o problema de dividi-lo com aquelas milhares de pessoas que o resolviam pegar exatamente no mesmo momento?

Estranhamente eu já achava natural carregar a carteira no bolso da frente, sentia menos falta da minha corrente e encarava numa boa as tiradas estratégicas de relógio em locais como a praça da Sé, minha corrente ainda nem encontrei...Se pudesse, também teria me acostumado ao regime "respirou-pagou" que ali é impresso, mas aí eu me lembrava da condição de estudante... Mas aquele barulho já nem incomodava tanto, nem o frio da noite me maltratava como antes. A garoa, ah, a garoa que no início tanto admirei e fui aos poucos tomando um certo repúdio não mais me fazia tanta diferença.

As multidões que outrora me assustavam ainda me impressionavam, mas com um ar de naturalidade, sem medo algum. Suflair eu já comprava um só: Nada de estar maravilhado com a promoção do "3 por 5" que no centro-oeste pareceria piada de mau gosto. Até Bilhete Único eu já tinha, este, aliás, ainda figura em minha carteira como mais uma lembrança dessa viagem. Os sambas paulistanos ainda se mantinham: Fui pego e me peguei cantando "Trem das Onze" por diversas vezes, e apesar de gostar desde muito tempo, não tenho dúvidas de que a megalope motivava aquela cantoria.

Foi na Avenida Paulista. Em meio àqueles dragões de concreto que estão longe de ser moinhos de vento e por entre adversários que por certo não são barris de vinho, diante dessas aberrações que também iam deixando de me impressionar foi que ouvi de um jovem executivo que sorria debaixo dum terno enquanto falava pro outro: "É liberdade, cara!" ao que este segundo respondia: "Isso não tem preço...". "Não, não tem..." Confirmava o primeiro...Foi ali que me lembrei que há esperança, foi assim que aprendi, novamente, que mesmo diante de uma realidade que parece posta, ainda há quem se lembre que acima de todo interesse, dinheiro e qualquer instrumento de retirar-nos a subjetividade existem coisas que não têm preço: Amor, alegria, vida, liberdade, esperança... Melhor eu parar por aqui, preciso ir embora: "Se eu perder esse trem que sai agora, às 11 horas, só amanhã de manhã..."

*João Cyrino não segue o Novo Acordo Ortográfico

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***Peço, novamente, sinceras desculpas pelo longo tempo sem publicar

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