O PUTEIRO E O TAXÍMETRO

Década de setenta na cidade do Salvador, as meninas de família ainda não dormiam com seus namorados em casa, portanto os rapazes tinham que se virar com as damas da noite, ou melhor, com as putas, então a ladeira da Montanha, da Conceição da Praia e adjacências eram os points da rapaziada.

Desde sexta-feira à noite os bordeis, conhecidos como Bregas, fervilhavam de todo tipo de gente a procura de companhia feminina, sim! A procura de mulheres, porque naquela época os assemelhados e que tais não eram bem vistos pela sociedade. Havia todo tipo de brega desde os mais famosos e caros ate os populares conhecidos como “pinga puz’’ pela riqueza das doenças venéreas que produziam.

Instalados em casarões ao longo das ladeiras que ligavam a cidade baixa à cidade alta, geralmente tinham um bar na parte térrea e os quartos nos demais pavimentos, se assim podiam ser chamados, pois na realidade eram pequenos cômodos separados por tabiques de madeira, as instalações sanitárias eram uma jarra com água e uma bacia em que a senhora dona puta fazia a higiene dela e a do cliente.

Alguns Puteiros tinham até musica ao vivo com muita dança e alegria, quando a ‘’Mista’’ chegava tudo ficava em silencio era uma patrulha composta por soldados do Exercito, Marinha e Aeronáutica que circulava na área, temida por todos quando adentrava no recinto tudo parava, até as putas mais escandalosas ficavam quietinhas a musica parava, os soldados olhavam os documentos dos fregueses, retiravam algum bêbado ou ‘’de menor’’ do local e aos poucos iam chegando perto do balcão, o dono do Puteiro servia bebidas para toda a patrulha e a festança recomeçava.

As putas tinham seu próprio código moral, não gostavam que usassem camisinha, nada de beijo na boca e propor sexo anal então era uma grande ofensa. Não raro algum cliente tinha puta fixa que sempre o atendia até mesmo sem cobrar, algumas vezes o amor acontecia e o sujeito a retirava do brega e constituía família com a sua preferida. A estória das damas da noite invariavelmente passava por uma questão de sobrevivência, não estava ali porque queria tinha perdido o cabaço e o pai a expulsou de casa, sem ter onde morar nem como sobreviver era forçada a virar puta, somente saindo da vida ‘’fácil’’ levada por um cliente ou morrendo à míngua.

De qualquer modo, sem querer ser saudosista, havia na verdade uma interação, uma comunicação entre o cliente e a mariposa além de um ambiente propicio ao sexo. Não é como hoje com garotas de programa via internet onde se pode escolher pelo perfil, medidas, cor, preferências e preços marca-se o encontro e ela chega com o taxímetro pendurado no pescoço, ou em outro local, faz rápido e mecanicamente o serviço e vai embora assim como chegou.

Paulo Melo
Enviado por Paulo Melo em 04/08/2011
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