O GATO
22h00min, lá vêm ele, passa pela grade do portão de entrada, andando sorrateiramente. Ouve um ruído e fica imóvel como uma estátua e direciona seu olhar para a possível origem do som. Continua imóvel aguardando para saber se continua a invasão ou se foge.
Como não acontece nada então resolve continuar, atravessa a grade do segundo portão, que dá acesso ao corredor para os fundos da residência. Continua andando a passos lentos e atento a tudo, para e olha pra trás, mais uns segundos estagnado e continua.
Chega próximo à piscina, olha para todos os lados lenta e silenciosamente, debruça com as patas dianteiras inclina-se para beber água. Já saciada a sede continua a perambular pela noite. Da a volta na piscina, urina na borda e continua caminhando e observando tudo. Dá um salto sobre a pia próxima à churrasqueira em busca de resíduos alimentares, mas nada encontra.
Volta para o chão, vai em direção a jardineira, para, observa e passa a cavoucar a terra. Depois de concluído um pequeno buraco, defeca e com uma pata joga terra por cima. Apesar de ser um gato, fez um serviço de porco, pois mal cobriu suas fezes.
Vai em direção a um canto e deita-se um pouco e tira um cochilo. Levanta e continua a andar e observar tudo. Sobe a escada lentamente, observa tudo atentamente e fica por ali mais um bom tempo.
O dia já ameaça dar indícios de claridade, os pássaros começam fazer festa, cantar e voar para todo lado: pardais, rolinhas, pombos, bicos-de-lacre, joões-de-barro, dentre outros.
O gato olha para o muro onde alguns pássaros pousam, se estica tentando subir na parede lisa, mas não obtém sucesso. Acompanha com os olhos e pescoço o movimento dos pássaros e vai ficando impaciente com a liberdade dos bichinhos.
Desce a escada, sobe na grande jardineira e de lá pula de galho em galho numa pequena árvore. Subitamente uma rolinha alça vôo desesperadamente, porém seus dois ovinhos ficam no ninho. Rapidamente o gato chega até ele, bate a pata e derruba os dois ovinhos que se espatifam no chão, próximo à piscina. Nota-se que os filhotes estavam em início de formação. O gato salta para o chão, se aproxima, bate a pata, cheira e sai descontente como que frustrado.
Agora inicia seu caminho de volta para casa, passa pelo corredor, com mais velocidade do entrou, passa pela grade dos dois portões e sai para a rua. Nesse momento um cachorro corre em sua direção. Acuado o gato para, fica eriçado com as unhas das patas prontas para iniciar sua defesa. O cachorro late, pula pra lá e prá cá, mas tem medo de avançar. Faz o gato girar em círculos, tentando pega-lo de surpresa, por trás, mas o gato não facilita e acompanha os movimentos do pequeno cão.
Talvez se fosse maior não teria tanto receio em abocanhar o felino, mas o cãozinho meio dócil está ciente da pequena diferença de porte físico entre ele e o gato.
O gato é bem peludo, assim como o cãozinho, ambos parecem ser bem tratados e alimentados. Ficam ali mais um tempo até que vira a rua uma carroça puxada por um cavalo. Aquele cachorrinho que tinha receio em atacar o gato, esquece por um momento seu próprio tamanho e corre atrás do cavalo. Nesse momento o gato aproveita e se aproxima de um muro com chapisco rudimentar e sobe em direção ao topo. Lá de cima para, olha e sente-se mais seguro.
Pula de um telhado para o outro até chegar a casa onde mora. Pula do telhado para o muro e deste para o chão. Anda um pouco, olha para todos os lados, se aproxima de uma tigela com água e sacia sua sede. Anda em direção a outra tigela e degusta algumas bolinhas de ração. Deita e dorme o resto da manhã.
Acorda, entra na casa, pula na cadeira, se ajeita e observa a dona da casa na pia, no fogão, e volta a dormir. Passa o resto da tarde dormindo.
Acorda já quase anoitecendo, vai para tigela de comida, come mais algumas bolinhas, bebe água e volta para a rua. Vê os cachorros soltos, da meia volta e pula numa cadeira velha, desta para o muro e do muro para o telhado. No telhado passa a perseguir os pássaros que começam a procurar um local seguro para passar a noite. Não pega nenhum e do telhado pula para a árvore plantada na calçada. Lá pula de um galho para o outro tentando pegar uma rolinha. Sem atingir seu objetivo e vendo que os cães se foram desce rapidamente pelo tronco até atingir o chão.
Atravessa a rua, entra numa casa, depois de uma hora sai e entra em outra e já tarde da noite volta para a casa, onde havia derrubado os ovinhos. Fazia esse mesmo ritual todos os dias e noites. Porém havia noites nas quais conseguia atingir seu objetivo maldoso de exterminar pequenos bípedes emplumados.
Já no fundo da casa consegue pegar de surpresa a rolinha que entristecida tentava entender o que houve com seus ovinhos. Ela se debate e já ferida tenta voar, mas o gato dá um salto e cai no chão, com a infeliz na boca. Ele morde, bate a bata, arranca algumas penas, e continua a mordê-la até que ave ferida mortalmente para de se mexer. Larga ela ali, já sem vida, e toda esfacelada.
O gatuno sai realizado por ter atingido seu objetivo, o qual nem sequer era saciar a fome, mas apenas caçar e imobilizar a presa.
Instinto animal, fome ou apenas maldade?
Sobe em outra jardineira, defeca sem fazer buraco, em seguida joga um pouco de terra por cima, volta para perto da piscina, urina, toma água e sai. Deixa no local um odor forte de fezes e de sua urina, que emana um cheiro insuportável.
Sai pelo portão, escapa novamente das garras e mordidas caninas, volta para a casa, onde não urina e nem solta seus dejetos, come, bebe e dorme.
Noutro dia a mesma coisa, porém ao entrar na casa e passar pelo corredor, vê as duas calopsitas domesticadas. Sobe pelo portão, pula no muro e dali para o poleiro, onde pega com facilidade uma delas, uma vez que são menos selvagens e mais indefesas. Com a boca mostrando um punhado de penas amarelas vai embora pelo telhado, para sob um beiral, deita-se realizado e solta o passarinho. O coitado não consegue mais voar e nem sair do lugar. Se debatendo é segurado pelas patas é mordido várias vezes até que para de se mover e é abandonado pelo assassino de aves indefesas.
Não matou para comer, mas sim pelo prazer da caça.
Onde mora deixa tudo limpinho, e usa a casa dos vizinhos para descarregar suas impurezas intestinais e urinar. Mais alguns dias se passam, continua sujando a casa do vizinho, derrubando ninhos e matando pássaros.
7h30min da manhã, lá esta ele, estendido na calçada, próximo onde mora, esticado, duro e gelado.
Alguém se põe a gritar: - Mataram meu gato! Mataram meu gato! Coitadinho, não faz mal a ninguém, quem faria uma maldade dessas?
Aparece outro vizinho: - Não acho que foi atropelado, parece mesmo é que foi envenenado!
Nas árvores os pássaros estavam em festa, parece que o terror acabara. Na casa vizinha não havia mais fezes por todo lado e cheiro forte de urina.
Todas as famílias emplumadas já tinham entes assassinados: A calopsita viúva chorava sua perda assim como a rolinha seus filhotes. Os frágeis bicos-de-lacre haviam perdido vários filhos. Muitas rolinhas haviam abandonado seus ninhos., dentre muitas outras que haviam perdido seus pais, irmãos ou estavam mancas.
As aves não tinham inteligência para se unirem e atacarem o inimigo. O terror do silencio da noite apavorava as pobres e indefesas aves.
Mas o gato, coitadinho, tão meigo, tão dócil, tão manso, não fazia mal a nada, nem a ninguém.
22h00min, lá vêm ele, passa pela grade do portão de entrada, andando sorrateiramente. Ouve um ruído e fica imóvel como uma estátua e direciona seu olhar para a possível origem do som. Continua imóvel aguardando para saber se continua a invasão ou se foge.
Como não acontece nada então resolve continuar, atravessa a grade do segundo portão, que dá acesso ao corredor para os fundos da residência. Continua andando a passos lentos e atento a tudo, para e olha pra trás, mais uns segundos estagnado e continua.
Chega próximo à piscina, olha para todos os lados lenta e silenciosamente, debruça com as patas dianteiras inclina-se para beber água. Já saciada a sede continua a perambular pela noite. Da a volta na piscina, urina na borda e continua caminhando e observando tudo. Dá um salto sobre a pia próxima à churrasqueira em busca de resíduos alimentares, mas nada encontra.
Volta para o chão, vai em direção a jardineira, para, observa e passa a cavoucar a terra. Depois de concluído um pequeno buraco, defeca e com uma pata joga terra por cima. Apesar de ser um gato, fez um serviço de porco, pois mal cobriu suas fezes.
Vai em direção a um canto e deita-se um pouco e tira um cochilo. Levanta e continua a andar e observar tudo. Sobe a escada lentamente, observa tudo atentamente e fica por ali mais um bom tempo.
O dia já ameaça dar indícios de claridade, os pássaros começam fazer festa, cantar e voar para todo lado: pardais, rolinhas, pombos, bicos-de-lacre, joões-de-barro, dentre outros.
O gato olha para o muro onde alguns pássaros pousam, se estica tentando subir na parede lisa, mas não obtém sucesso. Acompanha com os olhos e pescoço o movimento dos pássaros e vai ficando impaciente com a liberdade dos bichinhos.
Desce a escada, sobe na grande jardineira e de lá pula de galho em galho numa pequena árvore. Subitamente uma rolinha alça vôo desesperadamente, porém seus dois ovinhos ficam no ninho. Rapidamente o gato chega até ele, bate a pata e derruba os dois ovinhos que se espatifam no chão, próximo à piscina. Nota-se que os filhotes estavam em início de formação. O gato salta para o chão, se aproxima, bate a pata, cheira e sai descontente como que frustrado.
Agora inicia seu caminho de volta para casa, passa pelo corredor, com mais velocidade do entrou, passa pela grade dos dois portões e sai para a rua. Nesse momento um cachorro corre em sua direção. Acuado o gato para, fica eriçado com as unhas das patas prontas para iniciar sua defesa. O cachorro late, pula pra lá e prá cá, mas tem medo de avançar. Faz o gato girar em círculos, tentando pega-lo de surpresa, por trás, mas o gato não facilita e acompanha os movimentos do pequeno cão.
Talvez se fosse maior não teria tanto receio em abocanhar o felino, mas o cãozinho meio dócil está ciente da pequena diferença de porte físico entre ele e o gato.
O gato é bem peludo, assim como o cãozinho, ambos parecem ser bem tratados e alimentados. Ficam ali mais um tempo até que vira a rua uma carroça puxada por um cavalo. Aquele cachorrinho que tinha receio em atacar o gato, esquece por um momento seu próprio tamanho e corre atrás do cavalo. Nesse momento o gato aproveita e se aproxima de um muro com chapisco rudimentar e sobe em direção ao topo. Lá de cima para, olha e sente-se mais seguro.
Pula de um telhado para o outro até chegar a casa onde mora. Pula do telhado para o muro e deste para o chão. Anda um pouco, olha para todos os lados, se aproxima de uma tigela com água e sacia sua sede. Anda em direção a outra tigela e degusta algumas bolinhas de ração. Deita e dorme o resto da manhã.
Acorda, entra na casa, pula na cadeira, se ajeita e observa a dona da casa na pia, no fogão, e volta a dormir. Passa o resto da tarde dormindo.
Acorda já quase anoitecendo, vai para tigela de comida, come mais algumas bolinhas, bebe água e volta para a rua. Vê os cachorros soltos, da meia volta e pula numa cadeira velha, desta para o muro e do muro para o telhado. No telhado passa a perseguir os pássaros que começam a procurar um local seguro para passar a noite. Não pega nenhum e do telhado pula para a árvore plantada na calçada. Lá pula de um galho para o outro tentando pegar uma rolinha. Sem atingir seu objetivo e vendo que os cães se foram desce rapidamente pelo tronco até atingir o chão.
Atravessa a rua, entra numa casa, depois de uma hora sai e entra em outra e já tarde da noite volta para a casa, onde havia derrubado os ovinhos. Fazia esse mesmo ritual todos os dias e noites. Porém havia noites nas quais conseguia atingir seu objetivo maldoso de exterminar pequenos bípedes emplumados.
Já no fundo da casa consegue pegar de surpresa a rolinha que entristecida tentava entender o que houve com seus ovinhos. Ela se debate e já ferida tenta voar, mas o gato dá um salto e cai no chão, com a infeliz na boca. Ele morde, bate a bata, arranca algumas penas, e continua a mordê-la até que ave ferida mortalmente para de se mexer. Larga ela ali, já sem vida, e toda esfacelada.
O gatuno sai realizado por ter atingido seu objetivo, o qual nem sequer era saciar a fome, mas apenas caçar e imobilizar a presa.
Instinto animal, fome ou apenas maldade?
Sobe em outra jardineira, defeca sem fazer buraco, em seguida joga um pouco de terra por cima, volta para perto da piscina, urina, toma água e sai. Deixa no local um odor forte de fezes e de sua urina, que emana um cheiro insuportável.
Sai pelo portão, escapa novamente das garras e mordidas caninas, volta para a casa, onde não urina e nem solta seus dejetos, come, bebe e dorme.
Noutro dia a mesma coisa, porém ao entrar na casa e passar pelo corredor, vê as duas calopsitas domesticadas. Sobe pelo portão, pula no muro e dali para o poleiro, onde pega com facilidade uma delas, uma vez que são menos selvagens e mais indefesas. Com a boca mostrando um punhado de penas amarelas vai embora pelo telhado, para sob um beiral, deita-se realizado e solta o passarinho. O coitado não consegue mais voar e nem sair do lugar. Se debatendo é segurado pelas patas é mordido várias vezes até que para de se mover e é abandonado pelo assassino de aves indefesas.
Não matou para comer, mas sim pelo prazer da caça.
Onde mora deixa tudo limpinho, e usa a casa dos vizinhos para descarregar suas impurezas intestinais e urinar. Mais alguns dias se passam, continua sujando a casa do vizinho, derrubando ninhos e matando pássaros.
7h30min da manhã, lá esta ele, estendido na calçada, próximo onde mora, esticado, duro e gelado.
Alguém se põe a gritar: - Mataram meu gato! Mataram meu gato! Coitadinho, não faz mal a ninguém, quem faria uma maldade dessas?
Aparece outro vizinho: - Não acho que foi atropelado, parece mesmo é que foi envenenado!
Nas árvores os pássaros estavam em festa, parece que o terror acabara. Na casa vizinha não havia mais fezes por todo lado e cheiro forte de urina.
Todas as famílias emplumadas já tinham entes assassinados: A calopsita viúva chorava sua perda assim como a rolinha seus filhotes. Os frágeis bicos-de-lacre haviam perdido vários filhos. Muitas rolinhas haviam abandonado seus ninhos., dentre muitas outras que haviam perdido seus pais, irmãos ou estavam mancas.
As aves não tinham inteligência para se unirem e atacarem o inimigo. O terror do silencio da noite apavorava as pobres e indefesas aves.
Mas o gato, coitadinho, tão meigo, tão dócil, tão manso, não fazia mal a nada, nem a ninguém.