BALA TROCADA NÃO DÓI
Na década de 70, no auge da ditadura militar, eu enjoei de ficar a pé após fotografar alguns casamentos, porque alguém deixava meu carro sem uma gota de gasolina. O método era simples: o ladrão tinha uma mangueirinha, por onde ele a chupava, depositava em algum recipiente, armazenava e, posteriormente, a vendia, clandestinamente, já que os postos eram proibidos de abrir e de vender combustíveis nos finais de semana.
Naquela época, as coisas em nosso País eram muito difíceis, a inflação era alta, os salários ruins e os empregos escassos. Então, os sonhos da juventude passavam pela calça Lee, a Coca Cola, a bandeira listrada de vermelho e branco, com estrelas dispostas sobre um retângulo azul marinho, localizado no seu canto superior esquerdo, e as cédulas, preferencialmente, eram “decoradas” com os retratos de Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt...
Alguns amigos partiram legalmente como turistas, outros se submeteram aos caprichos dos coyotes de Tijuana (mexicanos que “cobram os olhos da cara” para atravessarem, clandestinamente, as pessoas que desejam cruzar a fronteira do México com os EUA), e outros, ainda, burlaram as autoridades americanas, entrando naquele país pelo Canadá ou pelo Caribe.
Muitos deles ainda estão por lá, pois conseguiram trabalhar na América do Norte, desenvolvendo tarefas que os americanos não querem (queriam) fazer: faxinar casas, atender como garçons, cozinhar, fazer sanduíches.... Por tais tarefas eles ganharam muuuuito dinheiro, numa época em que o dólar valia bastante, possibilitando a melhoria de suas vidas e as de suas famílias.
Alguns se casaram com americanos e/ou juraram a bandeira, enquanto outros, após muitos anos de espera, conseguiram o sonhado Greencard, que lhes possibilita vir ao Brasil e voltar à América quando quiserem.
Não sei dizer como as coisas funcionam atualmente, mas em 2008, por experiência própria, a obtenção de vistos expunha os brasileiros interessados em estudar nos EUA aos seguintes constrangimentos: revista minuciosa para entrar na embaixada americana do Rio do Janeiro, atendimento de funcionários por trás de vidros blindados, comunicação por meio de microfones, “cara de paisagem” dos cônsules... Tudo, talvez, em função do medo decorrente do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001.
Ainda por experiência, até recentemente, uma vez que um brasileiro desembarque no território americano, é importante se preparar para expor todos os dedos em um leitor ótico que identificará suas digitais, para ser fotografado e, sobretudo, para convencer (em inglês) o policial que o entrevistará de que você não é nenhum “pau de b_sta”, e que pretende voltar ao Brasil na data informada. A seguir, é importante se desfazer de qualquer objeto metálico (imagine-me com os brackets nos dentes), tirar os sapatos e ficar quase nu para ultrapassar o portão que dá acesso, definitivamente, ao país.
Agora, quando o Brasil “vai muito bem obrigado”, quando a gente está com o “tanque cheio” de “petróleo e gás”, e tem ótimas perspectivas de melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro; o EUA vive uma recessão sem precedentes. O mundo é mesmo redondo!
Em meu entender a “disgraceira” começou com a mania americana de entrar em guerra com outros países (Tá pensando que é artefatos bélicos são baratos?), desemboca na falência do banco Lehman Brothers em 2008, e deságua no aumento do déficit público, que chegou à “bagatela” de US$ 14,3 trilhões, dos quais US$ 1,1 trilhão são devidos aos chineses.
Diante dessa problemática, restaram apenas duas alternativas: o calote, tendo como conseqüência a quebradeira global dos credores; ou a elevação do teto de endividamento. Venceu a segunda alternativa no dia 02 de agosto de 2011, prevalecendo, a duras penas, o bom senso entre democratas e republicanos.
Sempre fui bem tratada nos EUA e acho que devemos ser solidários com os americanos. Se eles escolherem vir morar e trabalhar em nosso País, sei que, infelizmente, nem todos poderemos lhes oferecer aspiradores de pó, máquinas de lavar pratos, luvas... Mas o que nos impede de lhes oferecermos nossas vassouras, espanadores, rodos, bandejas, copos, pratos...? Quanto à remuneração, penso que “pau que dá em Chico dá em Francisco”. Então, mais do que o salário mínimo por mês será uma injustiça para com nossos irmãos, que aquelas plagas conquistaram com sangue suor e lágrimas.
Caso os herdeiros do Tio Sam gostem daqui e resolvam vir “às pencas”, teremos problemas com nossos patrícios. O jeito será pensar como os americanos: aumentar nosso efetivo de polícia e exército nas fronteiras, comprar muita bala para fuzil com mira a laser, e endurecer nosso serviço de imigração, determinando revista minuciosa, vidro blindado, microfones e “cara de paisagem” para todos eles, TAMBÉM!!