O GRANDE BAILE DE AGOSTO
Vento, ar seco, poeira, fumaça, vegetação ressecada: assim é o mês de agosto em Goiás, Brasília e boa parte do Centro-Oeste. É a seca que costumeiramente nos visita a cada ano. Normalmente é um período bem delineado que vai de maio até meados de setembro, mas, devido às alterações climáticas advindas do aquecimento global, isso pode ser alterado.
O cinza predomina na vegetação e, às vezes, ao mirar o horizonte nas terras altas do planalto central, nem se consegue separar o que é terra do que é céu, pois tudo se veste de uma desolada massa esfumaçada. De perto, toda a vegetação parece dormir e algumas retorcidas e quase totalmente desfolhadas pequenas árvores se fingem de mortas.
Aos olhos dos que não estão acostumados com esses anuais fenômenos, se teria a falsa percepção de que a vida abandonou o cerrado. A monotonia do cinza impera em todas as direções. Salvo nos brejos e veredas, onde o verde dos buritis é uma constante o ano todo. Se a natureza é sábia, uma prova disso está nos resistentes buritis, que parecem economizar água em seu corpo e sobrevivem às labaredas que lambem nossos campos, em queimadas irresponsáveis e até espontâneas, graças às suas cascas grossas, que agem como uma armadura forjada pela evolução. O buriti, poder-se-ia dizer, personifica o homem do Centro-Oeste, em resistência e persistência. Como nós, antes de um grande baile, tiramos uma soneca, elas parecem dormir, armazenando energia para resistir aos desafios de uma jornada festiva noite adentro.
O que nos surpreende - mesmo estando acostumado à sazonalidade - é como tudo acontece como em passe de mágica. De repente, galhos secos e retorcidos se cobrem de cor, de beleza, de vida e grande parte das árvores típicas do cerrado floresce durante este mês agosto. Frutíferas ou não, as árvores se vestem de flores, que se abrem em uma harmonia de cores, como que regidas pelo maestro Criador em um espetáculo especialmente concebido para encantar a nós, pobres seres humanos, já desacostumados com a beleza natural da simplicidade. E todos nós somos convidados a participar deste sublime baile orquestrado pela mãe natureza.