Saia Justa

Hoje de manhã, dando uma caminhadinha pelo calçadão da praia de Ipanema, me lembrei de uma história, contada pelo meu amigo Jorge, que retrata bem uma das inúmeras e divertidas facetas das relações homem-mulher.

Estavam, ele e sua senhora, sentados em um quiosque da orla da Praia de Ipanema, numa daquelas maravilhosas manhãs de domingo em que se tem absoluta certeza de que vale muito a pena viver e de que todas aquelas preocupações que rondaram nossa cabeça ao longo da semana são coisas de muito pouco valor. Problemas idiotas, em sua imensa maioria criados por nós mesmos pra nos infernizar e infernizar aqueles que nos rodeiam.

Pois lá estavam, Jorge e sua senhora, felizes, conversando amenidades que emoldurassem discretamente toda a beleza daquela paisagem. Jorge, um moreno, sadiamente bronzeado pelo sol, cabeleira grisalha em charmosos cachos, com aproximadamente 60 anos, 65 quilos dispostos elegantemente em seus poucos 165 cm de altura. É jornalista, escritor e produtor de programas de rádio. Um típico cidadão carioca, bom de papo e sempre portador de um simpático e algo enigmático, sorriso nos lábios. Sua senhora não conheço muito, mas sei que o apoia em tudo o que faz e que, além de uma grande companheira tem, com ele, afinidades totais de gostos.

Tomavam seus chopes, tranquila e distraidamente, quando Jorge viu ao longe uma linda mulher que se aproximava caminhando pelo calçadão. Considerou, naquele momento, que seria oportuno iniciar uma conversinha com sua senhora, para evitar que o silêncio desviasse a atenção dela para aquela deusa que se aproximava.

A bela se aproximava e Jorge conversava. Com o cantinho dos olhos pode verificar que a moça, se não era, tinha tudo o que precisava para ser uma modelo internacional. Trajava apenas biquíni e óculos escuros. O biquíni, não só era generosamente curto mas também lindo. De tons azuis e amarelos claros, que davam graça e jovialidade à moça, que muito bem sabia de sua beleza. Melhor ainda, sabia desfilá-la num belíssimo, lento e suingado caminhar. Um caminhar sem pressa. Sossegado. Que, como disse o Jorge lembrando o grande Ataulfo Alves, “tirava o sossego da gente”.

Conforme aquela verdadeira Afrodite tropical se aproximava, o mundo congelava à sua volta. Os carros na avenida: estáticos; o vento não soprava; as pessoas emudeciam e, como estátuas de sal, apreciavam, deslumbradas e silenciosas, aquele magnífico desfile. Apenas o sol agia e, com mais esplendor, iluminava a moça, como um holofote que segue a diva em seu caminhar pelo palco.

Lá vinha a perfeição em forma de mulher. De frente para ela, Jorge e sua senhora, continuavam a conversar. Todos na praia olhavam em direção à musa. Inclusive a senhora de Jorge, que então já a tinha avistado. O quiosque ficou em silêncio. Apenas Jorge balbuciava algumas palavras sem nexo e fitava o horizonte e as gaivotas que por lá voavam (mesmo na ausência do vento) em busca de algum peixe.

Jorge pensava estar sendo fiel à sua senhora, cumpridor de suas obrigações de bom marido. Não olharia! Aquele esforço valeria à pena com certeza! Em apenas alguns segundos tudo voltaria ao normal e aquela rigidez que sentia em seu pescoço, marmorizado pelo esforço de mantê-lo rígido, sustentando sua cabeça e seu olhar na direção do distante horizonte, por fim terminaria.

Meu Deus! Já se passara uma eternidade e o silêncio continuava! “Será possível que esse suplício não chega ao fim!”, pensou. Em completo silêncio, com os pensamentos desorganizados e o coração acelerado, sente o cotovelo de sua senhora tocar-lhe suavemente o braço, três vezes seguidas. Desperta de seu torpor quase letárgico e ouve a esposa sussurrar-lhe ao ouvido:

“Olha cretino!”.

Paulo Rego filho
Enviado por Paulo Rego filho em 03/08/2011
Código do texto: T3136830
Classificação de conteúdo: seguro