A Balada Humana Dos Anjos Caídos
Inomináveis Saudações a todos.
Entre os meus gostos cinematográficos, curto filmes densos, com conteúdo extremamente profundo, verdadeiro, dramático e, o que eu muito aprecio esteticamente, melancólico. Lembrando-me hoje dos mais belos filmes que assisti, decidi falar de um que recentemente me impressionou pela sua atmosfera envolvente e bela. Falo de Anjos Caídos (Fallen Angels, 1995, Hong Kong), do diretor Wong Kar-Wai e protagonizado por Leon Lai, Michelle Reis e Takeshi Kaneshiro. Diferentemente do que a famigerada Hollywood vem produzindo recentemente, o cinema de outras partes do mundo oferece-nos obras de arte que enriquecem-nos interiormente. Mesmo que algum de vocês aprecie mais o estilo de filmes como os blockbusters que apenas geram renda do que o estilo de filmes que digam algo à alma, recomendo, apenas como uma experiência de 95 minutos a apreciação de Anjos Caídos. O cinema de Hollywood tem produzido poucas obras de densidade e o poder mui natural de fazer refletir ultimamente; entre as raridades que se destacam neste rol de verdadeiras obras de arte de que se fala aqui está, acima de todos, Meninos Não Choram (Boys Dont Cry, 1999, EUA). Outro dia falarei deste filme, hoje, nesta reflexão, este Inominável Ser vos falará da essência de Anjos Caídos. Este título remete à maior de todas lendas em minha opinião, que pode ser ou não uma história real. A Queda Dos Anjos Caídos, A Maior De Todas As Lendas Em Todas As Lendas Que Podem Ser Verdadeiras, fascina a este Inominável Ser, e no filme que recomendo que assistam, Anjos Caídos, todo o ar parece dizer que em meio ao caos diário do Ser do mundo somos todos Anjos Caídos. No filme, a narrativa percorre as dimensões mais sublimes da tristeza e da solidão. Narrado como um sonho de desencontros totais e encontros poucos, a dinâmica do filme equivale a adentrar em abismos muito profundos d'alma humana. Há um matador, a sua agente e um rapaz delinqüente mudo, em situações que se entrecruzam, em momentos que se equivalem no nada que acrescentam ao desenvolvimento de suas existências. Vivendo uma vida fria de assassinatos sanguinários, o matador abandona a sua profissão e deixa para a sua agente, como mensagem em uma ficha de jukebox, a música Forget Him, partindo então para uma vida de excessos com uma garota, Blondie, que ele conheceu em uma lanchonete MacDonald's. A agente, obcecada com o sumiço dele, parte para uma melancólica trajetória desesperada experimentando em sua solidão sentimentos que tenta de todas as maneiras reprimir ou satisfazer. O rapaz delinqüente mudo, He Zhiwu, enfrenta problemas com o pai, não tem amigos e de todas as maneiras ter uma relação normal com a primeira garota com a qual tem um relacionamento, Cherry. Se o filme fosse uma novelinha de televisão na qual sempre há finais felizes, seria para mim e para todos aqueles que o apreciam apenas mais uma xaropada cinematográfica. Wong Kar-Wai foge de todos os clichês possíveis, altera todo o formato de se contar uma história e utilizando-se de uma linguagem mais elaborada, perfeita e sofisticada de videoclip, só que um videoclip a falar das dores humanas ocasionadas pela solidão, elabora uma saga decantando a decadência do nosso mundo recheado de perdições as mais várias. A música Forget Him, a música instrumental adicionada à trilha sonora e as narrações dos personagens na forma de confissões dolorosas agem como os condutores da saga imensa de dores ali presente. Não contarei todo o desenrolar do filme, assistam-no com vossas almas como eu o assisti com a minha alma e tirem as suas conclusões acerca de que realmente todos vós podem não se dizerem solitários. A solidão pontua todo o filme e pontua também a realidade do nosso mundo onde as quedas são mais comuns do que as ascensões e a Ascensão Humana, que foi o tema da reflexão anterior, torna-se mais impossível. Todos os personagens do filme tentam sair de si mesmos, de suas solidões interiores para a satisfação de preenchimento a fim de findarem as suas solidões interiores. Anjos Caídos, decadentes a cada respiração, improdutivos a cada passo, inférteis a cada ato, eles viajam em terrenos os mais sombrios procurando um ponto de chegada e encontrando sempre partidas de possibilidades de felicidade, alegrias, paz, tranqüilidade ou, simplesmente, uma doce simples maior companhia. A Queda Humana não é uma lenda e ela segue seu desenvolvimento em nosso mundo contemporâneo tão preenchido de solidões máximas em seus horizontes pontilhados a cada milímetro por lágrimas e pedidos silenciosos de socorro daqueles que caem diariamente em suas angústias e dores solitárias. Não sentir que a Queda Humana é maior a cada dia é ser insensível ao que demonstra-se todos os dias ao olhar humano. O filme que recomendo fala muito da decadência pulsante em nosso mundo contemporâneo, decadências nas decadentes manhãs, decadência nas decadentes tardes, decadência nas decadentes noites. Os Anjos Caídos, nós humanos, somos materiais e reais e se um Dia fomos apenas Espírito, tal Dia por nossas almas foi esquecido. Anjos Caídos na forma de Espíritos nos rodeiam e são tão solitários como nós. Anjos Caídos com formas materiais, nós, participamos de uma balada que muitos não ouvem, poucos ouvem, todos tentam negar. Anjos Elevados: quais são eles aqui neste mundo de Anjos Caídos?
Saudações Inomináveis a todos.
Texto originalmente publicado em meu falecido blog Sobre Filosofia E Poesia E Música E Magia E Mundo em 29/08/06. Republicado aqui com algumas modificações.