Nosso País Em Versos De Uma Raça
Nosso País Em Versos De Uma Raça
Canto Das Três Raças
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
E de guerra em paz, de paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar, canta de dor
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor
Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro
Inomináveis Saudações a todos.
Os versos de tristeza profundos dessa música foram entoados pela voz sublime de Clara Nunes. A letra dessa música relembra a trajetória humana neste nosso país, que procura ainda a sua própria identidade. Não é uma questão de falar que apenas prevaleceram os valores portugueses, com a tradição católica que até hoje é a maior tradição religiosa brasileira. Não se trata de decantar mais uma vez a já fastidiosa comprovação da mistura racial que deu certo em algumas maneiras e pontos de vista práticos. Não se trata de ser aqui um ufanista fanático, um exaltador das belas qualidades da "pátria amada gentil". Não se trata aqui de ser um demagogo pueril e tolo como todos os políticos do mundo são, políticos mais interessados em aumentarem o seu grandioso capital do que alinharem-se em uma congregação de reforma mundial. Não se trata aqui de agir movido por um sentimentalismo mediocre vão. Não se trata de procurar aqui convencê-los acerca de que "devemos amar muito ao nosso país". Não se trata aqui de relembrar a mediocridade verbal presente no "ame-o ou deixe-o" dito por um militar arcaicamente tolo como todos os militares do mundo, os quais mais se parecem com cães seguidores das leis dos Estados do que homens que sejam contribuintes para a harmonia dos Estados. Este Inominável Ser aqui não é patriota e nem nacionalista, é um cidadão da Criação, de todos os Universos, de todos os mundos. Porém, ele reconhece existir aqui neste mundo tão imperfeito ainda e de morar em um dos países que mais necessitam de uma reforma geral. Pergunto-vos se em 506 anos de história o nosso país soube reconhecer-se como uma potência que em si mesma possui as qualidades máximas para ser grandioso... Possui ou seremos ainda uma pátria de puros sonhos navegantes pelos mares das brutais ilusões gigantes de uma grandiosidade que nunca virá enquanto estiver sendo erroneamente buscada? Já deixamos há muito de sermos aquela piada de "país do futuro". O futuro chegou, o futuro está aqui, o futuro está dentro de nós, o futuro é o atual mundo, pois as reformas de um futuro qualquer começam na atualidade evolutiva do presente. Somos uma única raça neste solo, não somos? Ou somos milhares de raças aqui em conflito? Ou vivemos ainda gritando em alta agonia pelo nosso alvorecer como um país que mereça ser um grande país? Não vou falar de violência, os dias e as noites brasileiras dela falam, os jornais e os telejornais, os Datenas e os Rezendes dela falam pelos dias e noites do nosso cotidiano existir. Não vou falar das belezas naturais, nossos olhos e sentidos internos as percebem, seja a beleza do imenso maravilhoso verde das matas, seja a beleza da deusa mulata a passear rebolativa e faceira pelas ruas brasileiras. Não vou falar da beleza das mulheres, esta reflexão não é uma exaltação dos atributos corporais feminis, esta reflexão não é um tributo à famosa esteatopigia das brasileiras. Não vou falar do apetite sexual do brasileiro, esta reflexão não está a tratar de assuntos que permeiam os campos da vulgaridade. Quando um país inteiro se interessa em saber como um paparazzi conseguiu flagrar uma "famosa celebridade" com o seu namorado se agarrando em uma praia, é porque a sua situação é bem grave... Mas, vós a isto atentam-se com verdadeira preocupação? Ou são daqueles que não dispensam as futilidades dos mundos das "celebridades"? Digo-vos, com inominável sinceridade, com inominável certeza, que as verdadeiras celebridades, os verdadeiros artistas, são as pessoas que acordam todos os dias às quatro horas da manhã para irem trabalhar, encaram todos os dias o mesmo trajeto monótono em direção aos seus locais de trabalho, trabalham todos os dias por oito horas, saem cansadíssimos todos os dias de seu trabalho, retornam no mesmo caminho monótono para as suas casas e recebem um salário desgraçadamente miserável todos os meses! Esses são os verdadeiros artistas, as verdadeiras celebridades de nosso país! Artistas por atuarem de boa vontade em um papel mecanicamente seguro de realizarem os seus objetivos diários e terem os seus sonhos extintos dia a dia diante da máquina estatal que atende aos interesses internacionais que controlam o nosso país! Celebridades por terem todos os dias forças para suportarem as adversidades dos descaminhos que são obrigados a atravessar! Todos merecem prêmios por serem assim e não os medíocres que a mídia nos faz engolir como "pessoas de sucesso"! Todos eles estão representados pela letra da música acima, aquele grito de agonia ainda ecoa no Brasil, este que é um país tão machucado pela vitória das futilidades e perdido onde poderia obter as chaves da sua grandiosidade. Que os políticos que estejam lendo esta reflexão perdoem a minha inominável sinceridade, por causa do que acima foi dito acerca de vós. Que os militares que estejam lendo esta reflexão perdoem a minha inominável sinceridade, por causa do que acima foi dito acerca de vós. Esta revolta inominável deste Inominável Ser finalmente aqui transparece e tudo o que vós representais neste país serve aos interesses obscuros de seres que nunca pisaram neste país. Os versos de O Canto Das Três Raças é o que representa a realidade brasileira da melhor maneira, da única maneira. Aquarela do Brasil? Esta música é utópica, para utopistas, para sonhadores inúteis! O Canto Das Três Raças converge para a afirmação de uma única raça neste país, cujos versos são cantados por todos os brasileiros que SABEM da grandiosidade de seu país. Sem ser nem um pouco nacionalista, sem ser nem um pouco patriota, este Inominável Ser aqui apresenta uma reflexão bem séria e importante, um alerta, sem medo das reações a ela contrárias, sem medo das repercussões que ele causará. Revolta surge neste Inominável Ser ao ver que as atenções da mídia voltam-se mais para os Ronaldinhos e as Cicarellis da vida do que para os Joões e as Marias que diariamente são vítimas das desigualdades sociais e econômicas brasileiras... A mídia apenas foca os pobres para serem objetos de demagogias baratas ou quando são aprisionados por algum crime. Raramente, a boa ação de um brasileiro pobre neste país repercute positivamente. Sim, isto, esta reflexão, é um grito de revolta neste espaço democrático que é a Internet. Inominavelmente, este Inominável Ser não poderia ficar calado e de braços cruzados com relação a isso. Nosso país, eu creio, possui latente a grandiosidade. As sementes da grandiosidade podem ser plantadas por todos nós, ricos e pobres, uma raça em versos na música diária das ruas brasileiras. Música ouvida entre lágrimas de sangue. Música ouvida entre lágrimas de dor. Música ouvida enquanto o fruto do trabalho dos operários é negado em sua totalidade. Música ouvida enquanto o salário mínimo ofende a todo suor digno de anos e anos de esforços em prol de uma existência melhor. Música ouvida enquanto favelados são espancados por policiais imbecis que a todos vêem nas favelas como bandidos. Música ouvida enquanto crianças fumam maconha, cheiram cola, matam nas esquinas, matam nos sinais de trânsito, roubam, estupram, traficam, guiar por marginais adultos sem esperanças em um futuro melhor para si mesmos. Música ouvida enquanto os nordestinos morrem de fome. Música ouvida enquanto o nosso sábio Presidente Da República viaja pelo mundo. Música ouvida enquanto nossos políticos se esbaldam roubando o dinheiro público e enchendo os cus fedidos de fortunas que garantiriam aos que eles dizem auxiliar, os pobres, uma existência mais digna. Música ouvida enquanto meninas de seis, sete e oito anos se prostituem nas esquinas e nos bórdeis mais imundos. Música ouvida, ouvida, OUVIDA, enquanto todos nós estamos recostados em nossas cadeiras aconchegantes diante do computador, navegando pela Internet, navegando pelos céus e infernos virtuais, pelo que há de angelical e pelo que há de pornográfico, pelo que há de inovador e pelo que há de medíocre, pelo que é tudo e pelo que é nada. É uma música que instiga a este Inominável Ser a inominavelmente revoltar-se contra a desigualdade de um país que em si mesmo é grandioso. Somos pacíficos, povo pacífico, são poucos os que possuem n'alma a gana de um jacobino, a gana de um bolchevique, infelizmente... Se houvessem mais revolucionários assim no Brasil, outra música, mais branda, mais singela, poderia por todos nós ser ouvida. Mas, infelizmente, somos uma raça pacífica de versos pacíficos. E, além do mais, caso uma grande revolução eclodisse neste país, ela se findaria com a chegada do Carnaval...
Saudações Inomináveis a todos.
Texto originalmente publicado em meu falecido blog Sobre Filosofia E Poesia E Música E Magia E Mundo em 21/09/06. Republicado aqui com muitas modificações.