O sentido da Cruz
Naquele momento, o jovem João se interrogava: "O que faz ele suportar tanta dor e humilhação?" Já vira aquela cena várias vezes, mas todos eram merecedores, porque bandidos. Mas aquele homem, que fora seu amigo por dois anos, não tinha crime. E ficava ali clamando aos céus, perdoando seus caluniadores, abençoando ladrões. Lembrava agora de um velho que dizia: "Quando o homem é demasiadamente humano parece Deus". Ele parecia Deus, porque demasiadamente humano.
João tentava consolar a mulher. Agora aquela seria sua mãe e ele seu filho. Pedido do próprio crucificado. João chorava. Várias lembranças passadas vinham a mente. lembrara das vezes que riram juntos no caminho para a casa de Lázaro. Como gostavam de visitar Lázaro! Lembrara da grande amizade que ele tinha com Lázaro. Agora ele estava ali, sendo alvo de vergonha, humilhação, violência bárbara. Logo ele, que sempre falou sobre amor, verdade, vida, amizade, Deus, redenção, remissão de pecados. Como pode alguém ser condenado porque amou? Aquilo para João era o maior dos paradoxos existenciais. Disse que escreveria toda aquela história, pregaria os ensinamentos que recebera de seu amigo, arrebanharia mais seguidores, para que assim seus ensinamentos ultrapassassem as gerações.
- João... João... Estive longe por alguns segundos. Pressinto que é chegada a hora. A dor vai diminuindo. Você bem sabe que não consigo me limitar ao tempo, então sempre estou em projeção. Em breves momentos contemplei o futuro da Cruz. Muitos motivos quase me convenceram de desistir desta morte injusta. Ao me projetar ao futuro vi muitas coisas que envergonham a Cruz. Guerras santas, disputas entre irmãos, famílias divididas, mentiras em nome de Deus, Inquisição... Mas quando cheguei ao Alabama e vi um grupo de negros entoando belos spirituals, vi que a Cruz vale a pena. Sim, João, tende bom ânimo, o Alabama dá sentido à Cruz!