Na rua Santana.

Quando mudamos para Lavras, a rua onde  fomos morar era a mais importante da cidade: Rua Santana. Ali ficava nossa Fábrica de Pães e no andar de cima, morávamos. Era e   ainda é uma rua pequena: dois quarteirões. Como se fosse a perna de um y, dois braços a completam: duas pequenas ruas com um único quarteirão. Todos sabem onde fica a Santana, desses braços poucas pessoas conhecem o nome.

 Na rua, além de nossa Padaria, estavam também alguns bancos, a Prefeitura e a Câmara Municipal, lojas importantes. E já não estava mais o Teatro Municipal que era uma réplica do Scala de Milão. Quando chegamos já tinha sido demolido. Talvez estivesse aí o começo da decadência da rua que aos poucos foi se deteriorando. A  Prefeitura e a Câmara exigiram espaços maiores, os bancos foram para a Praça Dr. Augusto Silva que carinhosamente chamamos de Jardim, principalmente depois que  um louco colocou fogo em alguns casarões do entorno abrindo áreas para novas construções. Principalmente no segundo quarteirão uma fileira de velhas casas que aos poucos foram ficando abandonadas. Casas de herança, nenhum inquilino parava nelas, era abrir qualquer negócio e imediatamente fechar. Já escrevi sobre isso,   a inventariante dos imóveis foi barbaramente assassinada  por uma merreca de dinheiro,poucos reais que guardava em casa. Passado o assombro, o novo inventariante permitiu que o milagre fosse feito: hoje praticamente todos os imóveis estão sendo ocupados, principalmente por lojas.



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A Rua Santana aos poucos vai readquirindo o seu antigo glamour.. A antiga Prefeitura, hoje Casa da Cultura, a mais bonita construção da rua,  está sendo recuperada. Nesse local trabalhei os últimos seis anos e sinto um enorme orgulho de vê-la ressurgindo para seus próprios objetivos.  Uma infinidade de lojas novas estão sendo abertas e as que conseguiram sobreviver estão se remodelando, inclusive a nossa Padaria Rocha, que honra o nome. Resistiu aos tempos ruins como uma rocha, garantindo a sobrevivência da rua.

É a minha zona de conforto. Não preciso sair dali e do seu entorno, se não quiser. Inclusive moro em uma rua paralela, bem pertinho.

Temos de tudo na rua. Butiques sofisticadas, lojas de presentes, academias, farmácias, livrarias e papelarias, importadoras, sapatarias,  floriculturas, imobiliária, galeria, Petshops restaurantes, joalherias. Tudo que posso, compro na Rua Santana, só  compro fora o que não tem ali. Mas eis uma loja que pensei nunca entrar: a joalheria. Não que eu não goste de jóias, apenas não gosto de comprar jóias. Prefiro comprar livros, roupas, bolsas  sapatos. Cãezinhos. Mas...

Certo dia passei na calçada e olhei dentro da vitrine da joalheria. E lá estava ele. Não era uma jóia, era um simples relógio. Um relógio verde como as águas do mar.

Foram dois os dias em que pensei nele, na inutilidade de ter mais um relógio, principalmente se tudo o que mais quero e não ser dominada pelo tempo. Mas ele aparecia em meus pensamentos como se tivesse uma força magnética sobre mim. E realmente tinha. Não resisti. Fui lá e comprei.

Eu já havia pago e estava me preparando para sair quando a vendedora resolveu me alertar, falando baixinho, temerosa que eu desistisse da compra e fosse direto ao Procon:  olha, tenho que lhe avisar. "Ele não é a prova de água, só resiste até 30 metros de profundidade."
Fiquei olhando para ela e imaginando o que ela queria dizer com isso. Será que ela pensou que eu fosse uma mergulhadora profissional? Ou uma marinheira de submarino? Sem saber o que dizer ,percebi que ela esperava que eu dissesse alguma coisa e então, com um  sorriso amarelo eu disse: Ah, não se preocupe. Eu estou comprando só para usar no banho, mesmo.