O QUE É A CRISE? ACABOU O CAPITALISMO?

O capitalismo acabou?

Responde-se com a alternativa da inexistência de mecânica melhor para solucionar as necessidades sociais.

O Estado se fez presente na criação da sociedade pelo homem para intervir, organizando. O diagnóstico liberal de que o mercado resolveria tudo era e é falso.

A crise não é só econômica, traz no seu ventre o desvio moral, e a deformação é antiga como a humanidade.

O filho que ninguém deseja é o que provoca infortúnio, sai do caminho da correção para produzir antagonismos às verdades completas que nortearam o que de melhor há e pode haver na sociedade, a correção que se baseia no respeito aos direitos em geral tendo como epicentro o homem.

Se nenhum respeito houve no comunismo em sentido lato, geral, aos direitos básicos do homem, onde a liberdade é o primeiro requisito como propulsora de todos outros direitos, também ocorreu no liberalismo que eclodiu no dominó da crise que se instalou pela desenfreada especulação na busca do lucro fácil, aliada ao consumismo selvagem.

Mas isto não resulta em dizer que acabou o liberalismo, mas é indiscutível terem acabado seus excessos, ou ao menos, ser necessário impor regulação e freios efetivos, com mais presença do Estado, afastada a pretendida auto-regulação dos componentes do mercado, desembocados nos derivativos defendidos pelo então comandante do FED, Alan Greenspan, que desde 1986 até 2006 comandou o Banco Central ditatorialmente, surdo às advertências dos doutos.

Paul Krugman, nobel de econômia, sempre censurou a tese do imperador do Banco Central americano. Advertia para o que aconteceu, colar aos créditos “podres” os créditos com lastro em efetivas garantias.

O que aconteceu? Foram contraídas dívidas por quem não podia pagá-las, nem garantias para tanto tinham e o pior, quem já tinha ativos pagos (um imóvel por exemplo), tomou empréstimo para a "gastança" com garantia do bem (hipoteca do imóvel), só que lhe foi ofertado “pegar” mais dinheiro do que seu imóvel valia.

Havia uma exigência, “deixar” um pedaço para o agente financeiro. Nome da conduta: corrupção.

Dessa forma disseminou-se o crédito sem garantias, a “gastança” selvagem. Ficou fácil obter dinheiro, a chamada grande liquidez que impulsiona o consumismo visível no mundo, formando-se a gigantesca “bolha” especulativa de caráter primeiramente imobiliário, que se alastrou em outros seguimentos.

Daí se dizer não conhecer-se a extensão do dano, que traz as sequelas em cascata, como agora, formando o paradoxo no qual um país tecnicamente quebrado, os EUA, é quem garante reservas de outros países através de seus títulos públicos, inserido o Brasil nesse cenário com duzentos bilhões de crédito em títulos comprados dos EUA.

Iniciou-se,também, no vestíbulo da crise, o fenômeno de “terra arrasada”. Se os bancos não pagaram e são ajudados, privatizados a “tempo certo”, para posterior retorno das ações estatizadas , penso, “também não pago mais nada e serei ajudado”.

Assim, começou a se formar uma outra resistência aos resgates rotineiros; nos cartões de crédito.Os EUA pularam na frente, seguraram a derrocada.

Era uma nuvem negra, um virtual colapso ameaçador da produção e do emprego, das normais linhas do comércio e da indústria.

O prestígio do capitalismo liberal em seu grau maior, o braço financeiro, foi abalado desde então. Mas como ponderou John Kenneth Galbraith, notável historiador, falando em 1960 sobre a depressão de 1930, o capitalismo sobreviverá “POR CAUSA DA AUSÊNCIA DE UMA ALTERNATIVA ORGANIZADA E PLAUSÍVEL”.

Mudou o mundo. O preço é alto justamente para quem, aliado ao incentivo de gastar o que não tinha, induzido pelo sistema e com a anuência do Estado, envolveu-se na “gastança” realizando sonhos não realizados.

Como um furacão, mesmo os não inseridos nesse processo, também já sofreram e sofrerão a varredura econômica até razoável estabilização. Isso levará tempo, custará empregos, com frequentes ameaças como a resolvida ontem, dando mais elasticidade à dívida.

Crédito tem origem em acreditar, e os grandes bancos já não acreditavam uns nos outros com a quebra do gigante Lheman Brothers, um grande erro. Quebrou-se então a confiança e secou o crédito. Foi o erro dramático do governo americano que devia socorrer o banco enquanto era tempo de evitar a crise de confiança. Foi o que fizeram com a AIG , a maior seguradora do mundo.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 02/08/2011
Reeditado em 03/08/2011
Código do texto: T3135432
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