A escola é igual ao BBB?
Escola é igual a BBB. Tem o líder -professor- que nos manda para o paredão -provas-, mas somos salvos pelo anjo -nerd. É o título de uma comunidade do Orkut, uma associação feita muito inteligente. Só dessa comunidade, são mais de 190 mil membros. Não é a opinião de todos, mas vemos o retrato do pensamento de grande parcela da população que sente na escola, uma chata obrigação diária.
Temos heróis no BBB, como reza a metáfora do Bial. Heróis que são projetados para a fama momentânea sem esforço algum. Já os heróis da vida aqui fora, recebem o título por conseguirem cursar as 11 séries da educação básica. Estamos a caminho dos 12 anos de luta heroica. Felizes e heróis, sim, são aqueles que tiveram a oportunidade de estudar e não precisaram abandonar os estudos para trabalhar ou porque engravidaram.
Corrigindo a equivocada hipérbole do Pedro Bial, heróis são os jovens integrantes do BBB escolar que trabalham à noite e estudam de dia, ou vice-versa. Heróis são as mães de primeira viagem que conseguem deixar seu primogênito com a vó por um turno e não desistem de estudar. Heróis são aqueles que foram pouquíssimo estimulados na infância e quando o número de professores e de matérias aumentou, não desistiram e enfrentaram com bravura as suas dificuldades de aprendizagem. Gladiadores são os jovens que lutam contra alguma doença e, mesmo assim, persistem frequentando os bancos escolares. Heróis são os jovens que repetem o ano e assim como a fênix, renascem das cinzas e são aprovados no ano seguinte.
Trabalhar e não conseguir conciliar com os estudos, a gravidez, a falta de interesse do aluno ou enfrentar um problema familiar são as três maiores razões que levam o estudante mineiro a abandonar a escola. A pesquisa “Determinantes do abandono do Ensino Médio pelos jovens do estado de Minas Gerais”, promovida pelo Instituto Unibanco e que vem como encarte da edição de março da Revista Nova Escola, faz um levantamento dos motivos da evasão escolar e propõe mudanças.
A pesquisa diz respeito ao estado mineiro, mas pode ser estendida a todo o país. Apesar das peculiaridades de cada estado, da renda per capita ser diferente nas diversas regiões brasileiras, o ensino público e privado também, podemos utilizá-la como referencial.
Vamos dissecar os dados atinentes às razões do abandono dos estudos. 56,6% apontou a impossibilidade de conciliar a escola com o trabalho; 11,6% disse que não tinha interesse em estudar; a gravidez foi apontada como motivo por 6,5% dos jovens; e 3,3% enfrentaram problemas familiares que impossibilitaram a frequência na escola.
Dentre os problemas, ressalto os dois mais significativos. O drama da relação trabalho X estudo, que é uma realidade em nosso país, e a falta de interesse dos jovens. Temos milhões de miseráveis, sem esperança alguma de mudança. Milhões vivendo na pobreza absoluta. Muita gente precisando fazer bico até altas horas para conseguir alimentar-se. Desse modo, onde fabricar tempo para estudar?
Já quando falamos na falta de interesse do aluno, podemos perguntarmo-nos: o que o docente e a instituição estão fazendo para que o aluno perceba a importância de estudar? Com o cinto mais que apertado em casa, a escola torna-se um rito de passagem que não demonstra boas perspectivas.
Vou acabar o ensino médio e depois, o que vem? O que todos esses anos de estudo valerão para mim? A Escola, no sentido amplo da palavra, necessita disponibilizar mais cursos técnicos que insiram o jovem no mercado de trabalho. O ENEM firmou-se como grande ferramenta de ingresso nas instituições de ensino superior. Mas tem muito jovem sem saber disso. O professor não está fazendo o seu papel bem, de orientar. Nem a família, porque deveria preocupar-se prioritariamente com o futuro de seus descendentes. Nem o jovem, que negligencia o próprio futuro.
No Big Brother Brasil, os pseudo-heróis enfrentam o drama de não ganhar o milhão de reais que nunca tiveram. Já os heróis do BBB do Mundo Real, enfrentam o drama de perderem uma passagem para um futuro melhor. A seleção dos candidatos do BBB do Mundo Real é gratuita, basta matricular-se no ensino regular ou na Educação de Jovens e Adultos. Mas ganhar o prêmio final é muito mais difícil, por vezes impossível, para uma enorme parcela da população.