NO SUPER-MERCADO

Talvez os meus amáveis leitores ainda lembrem do Joãozinho que surpreendi no shopping.
Pois, ontem, flagrei outro no super-mercado!
O cabelo era, igualmente, espetado, mas o nome era outro - Juca (o que bem pior).
Vai ele seguindo sua mãe, ora puxando pra frente, ora pra trás, tentando livrar-se da forte algema que trava seu braço.
A mãe (santa criatura), prende o menino com a mão direita, empurra o carrinho com a esquerda e, ninguém sabe como, ainda consegue ler a lista de compras.
Seu rosto guarda a clássica expressão da impassibilidade, da resignação e somente franze a testa quando encontra alguma coisa com preço muito alto ou muito baixo...e vai seguindo.
Se qualquer homem tivesse que, apenas por um diazinho só, suportar tamanha pressão certamente seria sério candidato ao sofá do psiquiatra ou a um repouso forçado. Talvez uma sonoterapia...
O peralta veste um bermudão, que lhe chega ao meio da canela e que tem a boca esfiapada "que eu mesmo fiz, usando aquele garfão da cozinha". Uma camiseta leve, com alguma coisa escrita que não conseguí ler e tenis cujo desgaste explica bem pelas coisas que já teve de passar. De um deles pende, tristonho, humilhado, arrastando-se pelo chão, o que já fora um bom e branco cadarço.
Para os gerentes ele traz pendurada no pescoço uma tabuleta que diz: Atenção, o Sr Encrenca tá na área! E ficam imaginando como seria bom se as portas fossem arriadas, antes do furacão entrar.

A santa senhora, como que bem programada, a cada momento certo vai dizendo; "bota isso de novo no lugar", "larga essa garrafa aí, Juquinha", "desencosta da pilha de latas de azeite, seu peste", "tira o dedo do olho desse peixe, menino". Isso tudo sem nem olhar para o endiabrado, que, é claro, tá achando tudo ótimo!
Seus olhinhos, brilhantes e negros como bolas de gude, perscrutam todos os escaninhos do enorme salão. A cabeça (ah, aquele cabelo espetado!) gira sem parar à procura de um novo alvo, esperando, adivinho, que passe aquele cachorrinho "poodle" para colocá-lo dentro de uma caixa de papelão e deixar sua dona procurando-o aos berros.

Mas voltemos àquela santa senhora que, no momento, está parada à frente da gôndola que expõe garrafões de água mineral. Como ninguém pode ficar alerta indefinidamente, nem mãe,
ela se vê obrigada a largar o menino para poder levantar o garrafão e colocá-lo no carrinho.
"A hora é essa!"
E o garoto some com a rapidez do raio.
Com o mesmo semblante de total alheiamento, de beatitude dígna de um hindu, ela nota a ausência do pivete... e sorrí!
Será mesmo que eu a estou vendo sorrir? Ou será que é um esgar que prenuncia um iminernte colapso?
Não, é sorriso mesmo! Como isso é possível?
Com aquela cara de guru, vira o carrinho e, como se estivesse sendo telecomandada, segue firme numa direção que a levará ao nosso herói, rota essa já suficientemente decorada e que ela registrou em experiências anteriores.
"Bingo", lá está o moleque frente ao refrigerador e já com um monte de caixas de sorvete atulhando seus lindos bracinhos.
- Bota tudo isso no lugar, seu danado! - ordem já acompanhada de um belo beliscão.

Acompanho-os até a caixa, onde o garoto ainda tenta embolsar um saco de balas e lá vão eles para o carro.
Ufa, por hoje acabou! Será?
Olha que o estacionamento ainda é longe e talvez haja tempo para outra aventura qualquer!













paulo rego
Enviado por paulo rego em 02/08/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3134510