ÍDOLOS E ILUSÕES

A fome e sede por ídolos não é um aspecto sociológico novo. Os povos mais primitivos já os estabeleciam e veneravam seus supostos atributos de superioridade, naquela ocasião, com vistas à acessibilidade ao incompreensível e para oferecer uma resposta plausível ao incontável número de fenômenos, naquele momento histórico irrespondíveis.

Na transição desse período com a Idade das Trevas, dá-se uma intensificação mística e mítica, fomentada por uma proposta político-religiosa do imperialismo católico-romano que consistia em solidificar o direcionamento a práticas e crenças que interessavam ao poder vigente e que manteria o "anestesiamento" da consciência coletiva. Assim nasceram toda surte de superstições e terrorismos teológicos, que mantinham milhões de mentes presas a um submundo de desconhecimento da vida, de Deus e do próprio ser humano em suas reais dimensões e essências.

A sustentação dessa prática até os nossos dias, porém, deve-se a novos desdobramentos. Somos o ápice de uma geração sem identidade, sem conteúdo e escravizada pelo "existencialismo enlatado". Mas o que seria tudo isso?

Todos nós somos a junção de uma bela contradição orgânica. Ou seja, ainda que assemelhados por um arcabouço biológico e por caractéres de análise geral, ao mesmo tempo somos de forma individualizada um universo de particularidades e peculiaridades. No contexto de sua essência, o ser humano é uno em sua consciência, temperamento, personalidade e postura de vida. Isso é fundamental no aprimoramento da maturidade social, haja vista que o conflito de idéias e a diversidade de olhares faz com que o mundo caminhe de forma muito mais sólida, do que se todos abrirem mão de suas prerrogativas sensoriais para viverem conforme a imposição ardilosa e muito bem articulada pela tríade: poder político - mídia - conglomerados empresariais. Lamentavelmente isso é o que predominado em nossos dias, gerando uma anencefalia globalizada, que furta a identidade do indivíduo, que o mumifica nas teias de um código de barras e o torna refém de ídolos preconcebidos.

A perda de conteúdo acaba sendo um estágio óbvio e evolutivo nesse processo nefasto, gestando homens e mulheres que desaprendem dia após dia de vivenciarem sua própria natureza, para serem massa de manobra, caixa de ressonância dos modismos e bonecos manipulados, capazes de agir inclusive de forma autodestrutiva, sem, porém, que se dêem conta disso. Suas indumentárias, sua estética, seu gosto musical, sua apreciação artística, sua visão política ou mesmo a total ausência da mesma, suas concepções espirituais e até mesmo a administração de seus sentimentos, passam a ser comandados por conceitos preconcebidos, por filosofias conspiratórias e por ideologias de massificação das idéias, que migram o ser humano de sua verdadeira origem para um mundo de consumidores de produtos infindos, dentre os quais o próprio ser humano acaba se tornando mais um. É por isso que de forma tão fácil, a indústria do entretenimento fabrica grandes ídolos, adorados por multidões imbecilizadas pelo apreço a algo de má qualidade, simplesmente pela suposta necessidade de seguir a corrente majoritária, mantendo as consciências tampadas nos invólucros de uma visão adolescente de que a "normalidade" consista no pertencimento às "tribos" disponíveis nesse mercado tão farto de inconsciências.

Por fim, resta esse mar de zumbis disfarçados de gente, que andam sob o sol ostentando seus rótulos de consumidores que queimam nas fornalhas da mentira e moram felizes nos campos de concentração comandados pela indústria da cegueira. Por essa razão, tantos admiram quem não lhes mereceria nada além da indiferença, endeusam criaturas grotescas, seres nada exemplares, com seus hábitos e vícios nocivos e que acabam sendo multiplicados por essa plebe entorpecida que lhes veneram.

São esses mesmos ídolos que sucumbem em solo nada sagrado por conta de suas extravagâncias, de suas overdoses, de suas degradações e depravações e dos seus passos apressados rumo á própria cova. Não obstante, são endeusados e admirados pelos que ficam e que parecem sentir-se atraídos por uma inexplicável e tenebrosa vontade de seguir-lhes os passos.

Uma grande ilusão, cuja liberdade só é possível àqueles que entendem a originalidade do projeto de Deus em cada indivíduo. Que não fomos criados para consumir em fila coisa alguma ou para sermos industrializados em prol do enriquecimento de uma minoria. Havendo decência, respeito e acima de tudo o mais sincero amor nos corações, cabe a todo homem e mulher viver segundo sua própria consciência, sob a luz de um só Deus, longe das sombras idolátricas, firmes no majestoso caminho daqueles que podem testemunhar quão bom é ser quem somos e não quem querem que sejamos!

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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 02/08/2011
Código do texto: T3134052
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