GATO POR LEBRE

Quando se diz que"De longe, todas as montanhas são azuis", alguém pode achar a frase apenas bonita e nada mais, pensando talvez que a mesma costuma ser escrita em para-choque de caminhão. Podem pensar o que quiserem. O certo é que, esse conceito filosófico sintetiza o equívoco que se tem com relação quando se julga uma pessoa ou um fato somente pela aparência. Mais ou cedo ou mais tarde, quando isto acontece, alguma decepção também se faz presente, não resta a menor dúvida. Chega a ser uma atitude até certo ponto perigosa. Quem age assim pode até sofrer frustrações de pequenas ou grandes proporções. Afinal, tudo na vida exige ponderação, análise, cautela etc. Caso contrário, corre-se o risco de realmente quebrar a cara, literalmente, o que comumente se denomina "comprar gato por lebre". Senão, vejamos um caso real para ilustrar mais o que pretendo dizer com este preâmbulo.

Mãe e filha procuram um hospital. A primeira precisa de um atendimento médico. Na porta da sala onde vão ser atendidas está escrito assim: SERVIÇO SOCIAL MÉDICO. O funcionário que as atende está usando um avental branco, por coincidência, neste dia, também usava uma calça da mesma cor. As duas foram bem atendidas pelo funcionário, que as autorizou ir a outra sala onde

a matrícula da paciente foi consumada.

Antes de deixarem aquele hospital, as duas passaram novamente na primeira sala para agradecer ao jovem, aproveitando para convidá-lo para uma visita na residência delas. Ele não entendeu muito aquele excesso de gentileza, mas até que cresceu os olhos com outras intenções para a filha da paciente. Antes de deixar o ambiente ela ainda olhou para trás e deu um sorriso malicioso que ficou na mente daquele funcionário.

Uma semana depois, as duas voltaram. Ele aproveitou para retribuir a gentileza, convidando-as para um café numa padaria próxima. Era o mínimo que poderia fazer, por enquanto. O certo é que, pelo menos por enquanto, tudo indica que ali tinha começado uma amizade, com prenúncio de um breve namoro. E este não demorou. Pois, na primeira oportunidade que teve, o jovem pegou o endereço daquela mãe que andava sempre com a filha à tiracolo e foi marcar terreno. Nesta oportunidade, sem muitos rodeios a mão da filha foi ofertada, sem nenhum subterfúrgio e muito menos restrições. Aliás, tinha uma: para sair, seria recomendável levar a irmã mais nova. A princípio, o rapaz achou muito estranho aquela exigência, mas para não decepcionar, aceitou. Depois de algum tempo, tal companhia foi dispensada. Só que em compensação, o passeio ficava restrito a um parquinho de diversões montado ali mesmo no bairro. E assim, aquele casal foi levando aquele namorinho sem maiores e agradáveis novidades.

Antes de completar seis meses, a mãe da jovem começou a mostrar suas verdadeiras "garras" e intenções. Com muitas indiretas, tentava mostrar ao namorado da sua filha que as suas colegas, inclusive, mais novas do que ela, já estavam noivas, outras até já se casaram e assim por diante. Percebendo que estava navegando num barco furado, o jovem procurou logo esclarecer algo que ele já desconfiava. Aquela pequena família estava redondamente equivocada quanto o seu cargo naquele hospital, inclusive, a sua situação financeira. Então esclareceu, primeiramente que não tinha nenhuma intenção de se casar tão cedo. Principalmente, porque não tinha condições de manter uma família. Afinal, ele morava com uma irmã e além de tudo, era um simples escriturário e não ganhava tão bem.

A decepção, a frustração foi notória no semblante daquela senhora e também da filha. Prova é que, já no outro fim de semana, ao regressar ali, o jovem não tinha bons pressentimentos. Parecia que algo muito errado iria acontecer naquela tarde de domingo. E não deu outra. Logo que se aproximou, ao ver o irmão da então namorada conversando com um rapaz na esquina da rua, sentiu que tempo iria fechar para ele. E quase fechou se ele não tirasse o seu time de campo, ao tomar conhecimento que aquele rapaz que pediu satisfação à mãe da jovem, era o ex-noivo da dita cuja, que a estas altura estava escondida no quarto contíguo, como se estivesse só esperando o circo pegar fogo.

Quando ele perguntou: "O que está acontecendo aqui, dona Maria?" Antes mesmo que ela tentasse mexer mais nas fezes, impregnando mais aquele triste ambiente, o escriturário do hospital, dantes confundido com um estudante de medicina, futuro médico, esclareceu:

- Olha, na realidade, ninguém sabe aqui o que está acontecendo. A partir de agora sim, poderá acontecer. Só que eu não farei parte deste circo!

Em seguida, virou as costas e saiu. Antes porém, na hora de encostar o portão, de soslaio, rapidamente olhou para a janela do quarto e viu a ex-namorada que destilava lágrimas de crocodilo pelo semblante bonito, que infelizmente fazia parte de uma pessoa totalmente dominada e guiada pela mãe possessiva, dominadora e interesseira. Se ela casou com aquele ex-noivo, não sabe e se foi feliz, muito menos, mas bem que esta história poderia ter tido outro final bem diferente. Mas a vida nunca é como se deseja e sonha. Sempre tenta nos provar que Deus escreve direito por linhas tortas.

Mas, amanhã será um outro dia e o sol irá brilhar novamente!

JOBOSCAN

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 02/08/2011
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