A CAIXA
Eu tenho uma caixinha – não uma caixinha qualquer, mas uma caixa onde eu guardo os tesouros. Durante a infância eu guardava algumas coisas que encontrava aleatóriamente. Guardei sementes, penas de pássaros, flores secas, papéis de balas, olhos de bonecas e pedras[rsrs] Muitas vezes eu encontrava uma pedra jogada no chão e num impulso eu colocava no bolso ou segurava a pedra até poder guardá-la na minha Caixinha de Coisas – eu era criança, e não sabia que as coisas se perdem com o tempo.
E assim, muitos dos meus achados se perderam e durante um longo período na minha vida, eu não juntei nada, a não ser o forte desejo de voar. Eu desejava a liberdade. Uma liberdade de corpo e de alma. Foi um período sem cor no qual eu me fechei feito larva – num casulo de medo e pavor onde adormeci. Não nasceram as minhas asas! Ao contrario, nasceram as cicatrizes. Superficiais na pele, mas, profundas na alma. Neste período não tive sonhos, fui perseguida por pesadelos – horríveis de serem lembrados. Houve um esvaziamento de tudo que eu sonhara durante os anos passados. Eu olhava no espelho e não me via. Não era eu quem o espelho refletia, mas uma mulher cansada e sem sonhos. Envelheci. Senti isso enquanto via o meu filho crescendo, brincando alheio ao meu sofrimento. Lembro que muitas vezes ele se deitava no meu colo e desenhava com o dedo, um caminho para as minhas lágrimas. Era essa a inocência que impedia o meu voo.
O tempo passou não sei se lento ou rápido – eu não vi. Não quis fazer parte de nada e me ausentei de mim. Não sei quanto tempo fiquei assim – ausente. Meu mundo resumia-se no meu filho e nos meus gatos – dois mundos e nada mais. A vontade de voar persistia e da minha cama, eu olhava a lua, linda e silenciosa. Sentia os cheiros e os sons da noite e ouvia as histórias que a menina que mora dentro de mim – contava. Às vezes, ela zombava de mim por eu não saber somar e multiplicar. Hoje isso não me assusta mais. Sei que tenho 10 dedos para me ajudar a fazer contas e se necessário uso os dedos dos pés! Me lembrei disso porque encontrei num sebo, uma cartilha igual a que usei no primeiro ano do primário [ naquele tempo - 'Cartilha Caminho Suave"], então me lembrei da minha ‘caixinha’. Coincidentemente eu tenho outra ‘Caixa de Coisas’, muito mais bonita que a velha caixinha usada para guardar relíquias – hoje eu guardo outro tipo de troféus. Não menos importantes, mas com seus respectivos significados. Tenho guardados, bilhetes escritos em guardanapos de papel, flores secas , tíquetes de passagens , duas colheres de plástico, corações de papel em origami, folhetos de Celebração Eucarística da Missa de Natal e o papel do meu ovão de Páscoa Sonho de Valsa [adoro!] O tempo parou. Chove agora. Não há diferença entre a chuva lá de fora e a chuva dentro de mim. Tudo são águas e eu não sei de onde elas vem. Queria me alegar e desfrutar dessa plenitude luminosa – nesse olhar que na penumbra me olha ou me olhava.
As minhas mãos estão frias...
Eu devia estar deitada – é uma sensação tão boa, um torpor que antecede o sono e o voar tão livre, mas eu gosto de escrever - sempre foi assim. Escrevi um bilhetinho escondi – talvez nunca seja encontrado, não sei... Tenho sede e fome. Seria bom beber água da chuva – é tão doce, enquanto que lágrimas são tão salgadas...
A noite é boa pra voar. Que pena, eu não consego ver as estrelas...
Eu tenho uma caixinha – não uma caixinha qualquer, mas uma caixa onde eu guardo os tesouros. Durante a infância eu guardava algumas coisas que encontrava aleatóriamente. Guardei sementes, penas de pássaros, flores secas, papéis de balas, olhos de bonecas e pedras[rsrs] Muitas vezes eu encontrava uma pedra jogada no chão e num impulso eu colocava no bolso ou segurava a pedra até poder guardá-la na minha Caixinha de Coisas – eu era criança, e não sabia que as coisas se perdem com o tempo.
E assim, muitos dos meus achados se perderam e durante um longo período na minha vida, eu não juntei nada, a não ser o forte desejo de voar. Eu desejava a liberdade. Uma liberdade de corpo e de alma. Foi um período sem cor no qual eu me fechei feito larva – num casulo de medo e pavor onde adormeci. Não nasceram as minhas asas! Ao contrario, nasceram as cicatrizes. Superficiais na pele, mas, profundas na alma. Neste período não tive sonhos, fui perseguida por pesadelos – horríveis de serem lembrados. Houve um esvaziamento de tudo que eu sonhara durante os anos passados. Eu olhava no espelho e não me via. Não era eu quem o espelho refletia, mas uma mulher cansada e sem sonhos. Envelheci. Senti isso enquanto via o meu filho crescendo, brincando alheio ao meu sofrimento. Lembro que muitas vezes ele se deitava no meu colo e desenhava com o dedo, um caminho para as minhas lágrimas. Era essa a inocência que impedia o meu voo.
O tempo passou não sei se lento ou rápido – eu não vi. Não quis fazer parte de nada e me ausentei de mim. Não sei quanto tempo fiquei assim – ausente. Meu mundo resumia-se no meu filho e nos meus gatos – dois mundos e nada mais. A vontade de voar persistia e da minha cama, eu olhava a lua, linda e silenciosa. Sentia os cheiros e os sons da noite e ouvia as histórias que a menina que mora dentro de mim – contava. Às vezes, ela zombava de mim por eu não saber somar e multiplicar. Hoje isso não me assusta mais. Sei que tenho 10 dedos para me ajudar a fazer contas e se necessário uso os dedos dos pés! Me lembrei disso porque encontrei num sebo, uma cartilha igual a que usei no primeiro ano do primário [ naquele tempo - 'Cartilha Caminho Suave"], então me lembrei da minha ‘caixinha’. Coincidentemente eu tenho outra ‘Caixa de Coisas’, muito mais bonita que a velha caixinha usada para guardar relíquias – hoje eu guardo outro tipo de troféus. Não menos importantes, mas com seus respectivos significados. Tenho guardados, bilhetes escritos em guardanapos de papel, flores secas , tíquetes de passagens , duas colheres de plástico, corações de papel em origami, folhetos de Celebração Eucarística da Missa de Natal e o papel do meu ovão de Páscoa Sonho de Valsa [adoro!] O tempo parou. Chove agora. Não há diferença entre a chuva lá de fora e a chuva dentro de mim. Tudo são águas e eu não sei de onde elas vem. Queria me alegar e desfrutar dessa plenitude luminosa – nesse olhar que na penumbra me olha ou me olhava.
As minhas mãos estão frias...
Eu devia estar deitada – é uma sensação tão boa, um torpor que antecede o sono e o voar tão livre, mas eu gosto de escrever - sempre foi assim. Escrevi um bilhetinho escondi – talvez nunca seja encontrado, não sei... Tenho sede e fome. Seria bom beber água da chuva – é tão doce, enquanto que lágrimas são tão salgadas...
A noite é boa pra voar. Que pena, eu não consego ver as estrelas...