RELIGIÃO E CIÊNCIA.
O embate entre a fronteira do saber e a transcendência do homem é profuso; benévolo e angustiante, temeroso e temerário, corajoso e fraco, sereno e ansioso, turbilhão de emoções vagueando pelas épocas todas, tendo no centro do cenário o homem, buscando através da religião a eternização de seu maior bem, a vida, enquanto a ciência de sua pesquisa altaneira e um tanto pretensiosa, ironiza de certa forma essas esperanças defendidas pelos credos.
Nessa testilha, nesse confronto antagônico de opostos, as maiores mentes sucumbem à dualidade que se unifica. É assim com Francis Collins, mapeador do genoma. Ratifica a gênese de grandes personalidades científicas clássicas.
Não fica difícil divisar, enxergar, a aproximação do pensamento na sincronia da causação comum da existência da primeira grande força, a suprema energia, isso no criacionismo e no evolucionismo.
Se em Sidarta Gautama, o Buda, podemos ver e viver sua grande iluminação, o elo causal onde não mais existem sofrimento, doença e morte, e que dorme em nosso interior o Deus de cada um, isto através do “Karma” das individualidades no plano espiritual, temos em Thomas Huxley, naturalista, defensor ardente do transformismo, dedicando-se a mostrar as afinidades entre o homem e o macaco, cientista de nota, o princípio do “Karma” material que liga a todos na cadeia da sucessão, princípio da ancestralidade, na certeza de que todos somos resultado do primeiro ser planetário que se organizou, e cada um de nós, fecho familiar da última geração, conseqüência da sua árvore genealógica na árvore única da humanidade.
A convergência está indissociável da divergência embora se estabeleça aparentemente a contradição!
Mas a corrente causal, sob qualquer ótica, se revigora na maior mensagem dos personagens máximos que por aqui transitaram.
O Cristo deixou perene “amar o próximo como a ti mesmo”. Estamos diante da unidade da cadeia causal. O que é amar (força que impulsiona e move toda a natureza) ao próximo como a ti mesmo, que não estarem ligados todos por força única que se propaga e se expande? A energia que a tudo move e dá origem à vida.
Confúcio de sua elegia à virtude e pela disciplinação ensinava: “A grande doutrina é aquela que nos ensina a necessidade de mostrar uma virtude transcendental. Todas as coisas, sejam materiais ou imateriais, têm raízes e ramos, que são as causas e os conseqüentes efeitos de tudo”.
Ghandi, afirmando que “eu não tenho mensagem, minha mensagem é minha vida”, mais não fazia que unir a todos na pacificação, já que sua vida, sua jornada, foi mensagem de paz para a comunhão de vontades através da não-violência, também um elo causal envolvendo a todos.
Assim, a ancestralidade de Huxley, física, material, que tece a teia da unicidade, onde todos somos frutos de uma mesma raiz, de uma mesma árvore, está virtualmente ligada ao lado nobre dessa vida de massa corporal, cujo vértice é o pensamento (alma, transcendência) que em desafio ao agnosticismo, à ciência, ninguém explica como se forma, nem a vida, não indo além do espermatozóide fecundando o óvulo, dois gametas também vivos com evidente causa eficiente antecedente, pois nada surge do nada.
Como Deus, o surgimento da vida, é segredo inviolável e inacessível à inteligência. Estaria em ver seu reino, o reino de Deus e sua face, o mistério da vida, origem da vida eterna, fecho e lacre permanentes e insondáveis destinados aos eleitos?
Uma interminável rede de neurônios, explica a ciência, gera a energia que formaria (o verbo está no condicional) o pensamento. Só isso?
Sofrimento inimaginável, o mesmo que deixa cientistas racionais e frios na proposição da dúvida, que esconde a confissão velada em pretender algo mais e nada poderem explicar. Por isso o citado Thomas Huxley, assentou: “Não confirmo nem desminto a imortalidade do ser humano: não vejo razão para acreditar, mas não disponho de meios para refutar.”
Kant do alto de sua “crítica da razão pura” sucumbe à dúvida e afirma não aceitar a eternidade, mas não poder recusar a existência de uma “Primeira causa”; reconhece a grandeza da “Primeira causa” grafando-a com letra maiúscula.
Se nada sabemos sobre a vida, nem mesmo como surge, como nos atrevemos a pretender explicar a morte? Calar quando não se pode explicar, cai melhor do que negar e por a dúvida a assaltar, a desservir a gnose, o conhecimento. Assim devia se situar a ciência.
O silêncio obsequioso é ao menos respeitável.
Khali Gibran, harmonizou a dúvida, “é somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar”, “e somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir, pois o que é morrer, senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?”