PONTE DE SÁ FENA

PONTE DE SÁ FENA

Dona Filomena Maria da Silva, ninguém sabia por qual motivo, desde menina ganhou o apelido de Fena.

Com o passar do tempo passaram a chamá-la Sá Fena.

Sá Fena morava na zona rural, próxima a uma pequena cidade do vale do Piranga. Casada, mãe de quatro filhos, ficou viúva muito nova. A sua casa, embora modesta, era muito bem cuidada. Possuía uma boa horta, um bom pomar e uma pequena gleba de terras onde cultivava os cereais e outros alimentos para sobrevivência de sua família . Como gostava muito de política, não deixava nunca de votar nos candidatos do seu partido. Em época de eleições, ela se prontificava a ajudar no que fosse preciso para a vitória dos seus candidatos.

Em uma eleição, ela ficou conhecendo o candidato a deputado estadual que o seu partido iria apoiar. Ficou maravilhada com a educação do candidato, que, por sua vez, fazia de tudo para agradá-la, pois ficou sabendo que em sua casa eram cinco votos: o dela e os de seus quatro filhos. Conversa vai, conversa vem, em dado momento, Dona Fena disse ao candidato que tinha um problema que a preocupava há muito tempo, desde que o seu marido era vivo. Para chegar à sua casa ela precisava passar sobre um ribeirão. Em época de chuva era um tormento, pois a travessia era feita sobre uma pinguela muito frágil que, a qualquer momento, poderia ser levada pelas águas. Então, ela solicitou ao deputado que, se o mesmo fosse eleito, providenciasse a construção de uma ponte naquele local. O candidato prometeu.

Veio a eleição, o candidato foi eleito, o tempo foi passando e nada da ponte. Depois de muito tempo, já sem esperança, Sá Fena, que havia contado a todo o mundo sobre a promessa do deputado, adoeceu e acabou falecendo. Algum tempo depois, em um dia de festa na cidade, o Corifeu, que nesses dias sempre tomava uns golos a mais, estava em um bar quando entrou um rapaz e disse :- Vocês ficaram sabendo? O nosso deputado fez duas pontes de safena e, graças a Deus, está passando muito bem!

O Corifeu, que acabara de virar mais uma talagada de pinga, não se conteve e disse: - Agora que a Sá Fena morreu não precisava mais fazer ponte. Ainda mais, duas pontes! E a coitada só precisava de uma.

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau/julho/2011

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 01/08/2011
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