Minha casinha de praia
Minha casinha de praia
A casinha que eu um dia sonhei em ter na beira do mar, ruiu... a violência e a crueldade dos homens fizeram com caíssem as suas paredes. Passei a vida inteira esperando o tempo passar, meus filhos crescerem e finalmente abraçar a minha aposentadoria, para realizar o meu sonho de morar numa praia sossegada, com areias brancas e coqueiros balançando ao vento, ouvindo os sussurros das ondas e sentindo o cheiro da maresia. Sempre tive uma fascinação pelo mar, mesmo antes de conhecê-lo, nos meus trinta e poucos anos de idade. Hoje, beirando os sessenta, quando chego à praia, ainda me sinto criança, com vontade de correr e brincar com as ondas, com o vento e com o azul que meus olhos não se cansam de admirar. Por isso eu queria morar lá. Mas queria uma casinha pequena, de rede na varanda, de chão bruto, coberta de palhas de coqueiro. Não posso. Não tenho a pele curtida pelo sol, nem o perfil das pessoas que fincaram vida ali. E por não saber viver a simplicidade dessas pessoas, minha vida iria destoar. Meus filhos me lembram sempre que falo nisso, da violência que já tirou a vida de muitas pessoas, que como eu, escolheram a distância e a solidão do mar para viver. A viver o meu sonho em sobressaltos, prefiro continuar aqui, nesta urbanidade caótica e barulhenta, mas onde eu me misturo com a paisagem. A violência também encontrou o caminho do mar, a crueldade está brotando em todo canto, e nós temos que nos esconder nas paredes dos nossos apartamentos e nos contentarmos com a visão do teto, já que até nas janelas a gente corre o risco de encontrar uma bala perdida. Foi pena que o meu sonho demorou demais... quando resolvi transformá-lo em realidade, a realidade do mundo era outra, bem diferente daquela em que a gente podia sonhar em viver com liberdade.