Sinergia.

Foi ao som de um saxofone que ela se viu encantada por ele.

A paixão devorou seus sentidos no exato momento em que ele notava sua presença.

Ele que percebeu seu sorriso em meio a tantos outros, seguia encantado enquanto ela sorria, devolvendo a atenção recebida.

O olhar que cruzaram despertava afinidade, magia, interesse. Á medida em que fixavam suas vontades, se guiavam pelo impulso de uma saudade, somente anestesiada pelo próximo encontro.

Eram constantemente surpreendidos pela conexão do instinto. Mas também tomados pela admiração, pelo carinho e pela certeza de serem interessantes um para o outro.

E eram fieis a todo esse movimento.

Quando juntos estavam, o efeito de seus corpos explodia em êxtase. Qualquer outra condição de aproximação, exigia deles muito mais, e eles não pretendiam.

Apesar do querer que suas peles experimentavam, mutuamente, estavam cegos diante de qualquer possibilidade do Amor, permitiam apenas, através de um simples olhar, a certeza de constantes encontros casuais.

Mas todo e qualquer encontro, mesmo intencionado a arrebatar apenas o desejo, pede uma aproximação. Eles até permitiam o acesso, mas o receio de uma substituição futura, somada a imaturidade de um contato mais íntimo, recuava a possibilidade de se tornarem mais do que amantes.

Estabelecia-se a partir dali, um círculo vicioso.

E mesmo estando ausentes da possibilidade da entrega absoluta, eles se entregavam. E enquanto estabeleciam contato, estreitavam os seus laços.

Haviam agora, se tornado cúmplices.

A arte da sedução era iniciada e pautada nas expectativas da vaidade de cada um. Mantinham encontros improváveis, ora encurtados, ora prolongados, pelo espaço do desejo.

Desejavam-se próximos, desejavam-se livres.

A intimidade que nascia entre eles, era inerente, não provocava alternativas. Tinham então que retirar suas proteções, dar espaço para um encontro mais arriscado, mais verdadeiro – um encontro sinérgico.

E mesmo desviantes ao nascimento do Amor, se tornavam fascinantes um para o outro. Surgia entre eles, por mais duvidoso que pudesse parecer, um sentimento diferente.

Ele a encantava por usar friamente as ferramentas da verdade, mesmo que muitas vezes sem qualquer cautela.

Ela o surpreendia por adorar a forma direta dos acontecimentos, e insistia em dominá-lo, quando se via e dizia fragilizada por suas atitudes.

Não somente respeitavam sua relação, como se mantinham entrosados a ela.

Nada mais do que sentiam e tinham, ousava interessar. Ausente de explicações, todo o corpo se arrepiava quando o casual encontro os aproximava. Era inclusive, impossível para ambos, saber da presença um do outro e não se deixarem procurar.

(...)

Quando deram por si, viram-se alocados um ao outro.

Haviam se tornado afinados, sinérgicos...

Qualquer rompimento, seria brusco, exigiria sofrimento. E este foi o sentimento que mais se empenharam em afastar.

Não se davam conta, porém, que assim como o desejo os movia frente a frente, a amizade cultivada cuidava para que ninguém saísse ferido.

Ibeia
Enviado por Ibeia em 01/08/2011
Reeditado em 05/08/2011
Código do texto: T3132583
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