A INTOXICAÇÃO DA MÍDIA.

Acho que pessoas de mais sensibilidade estão intoxicadas pelas notícias recorrentes de efetivas desgraças e mau presságio. Sejam econômicas, como agora uma crise-mãe, quando a locomotiva do giro financeiro, os EUA, rateia e empata seu PIB de quinze trilhões com sua dívida pública, e paradoxalmente é a segurança do mundo, pois quem tem reservas compra seus títulos, como o Brasil e a segunda nação do mundo economicamente, a China.

Intoxica muito e mais, pela recorrência da usurpação política, de mim conhecida, sociologicamente e profissionalmente, em latitude e longitude integrais, cuja medida e extensão poucos conhecem e, lamento, não mudará.

Isto tem me aguçado a vontade de me afastar mais e mais do convívio da informação em geral, mas ela entra e se apossa de mim pelos poros, por osmose, mesmo evitando-a.

Moro na cidade, sou da cidade, freqüento a cidade, sou cosmopolita e como pessoa um cidadão do mundo pela razoável informação que dele tenho e nele transito. Mas está se tornando insuportável para a humanidade a que pertencemos, longe dos escaninhos da correção da virtude como em que surgiu o homem, desnudo de vícios e inocente, esta torrente que desce como lava pela encosta da globalização, preenchendo todos os espaços sadios e tornando-os doentes, assolando o mundo, as gentes, com terrores e horrores.

Até mesmo o computador, conversor de amizades, já que soma pouco em pesquisa, sob todos os ângulos, sendo biombo de todos os pecados, desde os veniais aos capitais. Com esse estado de espírito, desacreditado das boas obras, abrindo revista recente que minha mulher assina datam anos, “Veja”, caio na página de excelente cronista, Lia Luft, e leio seu artigo sob o título “”Panelas de Água e Sal”

Perfeito para o trânsito deformativo-informativo que inverte a ordem natural de tudo que se possa esperar do ser humano. E pergunta-se, é ele, o ser humano, que pede essa destinação da informação, esse abrigo de tudo que não presta? É depositário e reivindica essa patologia para guardá-la em seu interior? E o direito constitucional híbrido de recepcionar a boa informação, irmão da livre expressão nos limites que não conflita com o desvio?

A seta da singularíssima cronista aponta para a grande complexidade cujo nó dificilmente se desata, nessa suma:

“Se em vez de querermos atordoadamente ter e aparecer, participar e pertencer e sobressair, pensarmos em alegrias e afetos; se acreditarmos que o bom e o belo são possíveis, apesar de tudo; se conseguirmos ser um pouco menos cegos e arrogantes, quem sabe começaremos a cair na real e a ajeitar a ordem do mundo que anda tão torta”.

Fecha a reflexão com a solução mais viável, ao meu sentir, depois da profunda exortação acima transcrita, e o faz nessa sabedoria, singela e lógica:

“Não acredito em grandes mudanças (EU TAMBÉM) neste tempo de ideologias confusas e cabeças loucas, em que a gente muda de partido ou ideal como quem compra um celular novinho. Mas tenho esperança em algumas transformações individuais. Talvez esteja me tornando ferrenhamente individualista, não por egoísmo, mas por esperar que cada um tente fazer a sua pequena parte.”

É o que falta, que cada um faça sua parte, sem querer aparecer tolamente, sem pretender ter ou ser o que não é ou tem, sem alardear o que está por vir e pode não vir, sem contestar a evidência do que é, sem matar a esperança da verdade que se mostra, às vezes, sem descer ao mais baixo ponto de vilania para haver, e principalmente, sem se esquecer que o todo é feito de partes.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 01/08/2011
Reeditado em 01/08/2011
Código do texto: T3132221
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