As Mil e Uma Faces da Escrita

A escrita. Digo a vocês que é uma dádiva que me acompanha desde menino apesar dos efeitos colaterais que acontecem quando escrevo em forma de hieróglifos que ninguém entende.

Pra mim, escrever é como ir a um baile de máscaras, desses dos Carnavais de Veneza, usando várias faces. Para ser exato, possuo mil e uma, que dependendo da situação e do tema proposto, vou trocando.

Com ela, aliada a uma imaginação sem limites geográficos, posso criar todas essas caras. Desde um homem santo até uma mulher fatal passando por fadas com poderes místicos, cavaleiros que lutam em batalhas por algum reino distante, canibais assassinos e carpinejando um pouco, canalhas sedutores.

Voltando a cara fria, se é que isso existe, alguns rostos dizem que tenho a face do cronista que para o tempo, outros falam que assumo a face do contista que faz o tempo andar e ainda mais alguns, menos condescendentes, acham que uso a face do copista que perde tempo usando Ctrl-C e Ctrl-V e argumentam que sou um falso dono do mundo por ter uma máscara poderosa em mãos que jamais uso.

Quando utilizo minha caneta ou meu teclado e meu cérebro é como se eu invocasse meus poderes cósmicos fenomenais, entretanto, pago o preço de ficar confinado dentro de uma lampadazinha mágica chamada de opinião pública.

Aí então ou pulo em brasas ou deito em uma cama de pregos, pois essas faces infinitas são exigentes pra burro.

Quando me elogiam, sou um deus e quando me criticam, sou o demônio encarnado.

Logo que começo a me acostumar com a face do escritor, alguém me diz que tenho que trocá-la para a face do autor. É aí que meu pesadelo começa.

Esta face autoral é tão convidativa quanto um canto da sereia e tão letal quanto Freddy Krueger. Aliena-te, afasta-te das faces mais chegadas e é difícil arrancá-la.

Tão difícil que só tratamento de choque resolve. Posso dizer, por experiência própria, que usei essa face horrível.

A escrita é um “vício”. Escrevo e não consigo mais parar. Assumo então minha face chapada de letras e palavras.

Mais do que um vício, mais do que um amor, a escrita me deixa mais feliz e me faz esquecer que o mundo é um horror.

É ainda a minha arte e a minha paixão que me conduzirão ou ao triunfo ou ao abismo.

Tudo dependerá das minhas mil e uma faces.

Que face usarei hoje?

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 31/07/2011
Código do texto: T3130704
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