O Jovem Enólogo
"___Como eu seria feliz se pudesse ser um enólogo!"
Foi em um dia de semana, na hora do almoço, na verdade após um ótimo almoço, conversa descontraída entre amigos, e uma gostosa caminhada no centro de Curitiba, que tive essa ideia. Eu tenho comigo que coisas boas e bons sentimentos sempre atraem bons sentimentos e boas lembranças por consequência. Hoje eu tive uma dessas lembranças.
Há mais ou menos seis anos eu tive a feliz oportunidade de conhecer Madri, em um momento mágico de minha vida, pois ainda gozava do status privilegiado de estudante que não tinha tantas responsabilidades na vida, e podia viajar mais literalmente ou em pensamentos. O fato é que a capital espanhola era o último lugar do meu roteiro de mochileiro, eu estava cansado e com saudades de casa, mas mesmo assim consegui visitar os museus, parques, e locais interessantes da cidade. Dentre tantas coisas e pessoas interessantes, no albergue estudantil onde fiquei conheci uma turma de cinco jovens da Catalúnia que iriam a uma grande festa naquele sábado. Conversamos animadamente por algum tempo na cozinha do albergue e perguntei a todos com o meu espanhol macarrônico, “_? O que tu haces? _Qual és tua ocupacion?”, a maioria deles era estudante, mas um deles trabalhava e disse com um largo e sincero sorriso: “_Yo soy degustador de vino”. Como assim degustador de vinho?, pensei. Na verdade a resposta é lógica e óbvia, mas acho que quando me questionei daquela forma, eu na verdade gostaria de saber como uma pessoa tão jovem podia ganhar a sua vida com a degustação de vinhos. Com muita calma pude saber que o que ele fazia não era só diferente, na minha humilde concepção, mas também era algo bem interessante e lhe possibilitava um estilo de vida que aposto que muitos jovens gostariam de ter. O tal jovem podia visitar muitos lugares onde se encontravam as vinícolas na área rural, e também percorria os grandes centros onde era solicitado em restaurantes e bares para provar e indicar os melhores lotes de vinho aos proprietários de estabelecimentos. Eu realmente achei aquilo como uma habilidade especial, um tipo de dom. Logicamente muitas pessoas possuem essa habilidade naturalmente, mas naquele momento nem me ocorreu que existem cursos para ser um enólogo e desenvolver essa aptidão.
Engraçado que até a pouco tempo atrás eu assisti um programa que demonstrava alguns jovens aprendendo a serem enólogos, experimentando diversos tipos aromáticos, cheiros, espécies de uva, inclusive indo aos lugares onde os principais tipos de uvas eram plantadas. Achei tudo muito fascinante e instrutivo, e para completar também vi um filme chamado “Sideways”, em que o drama-comédia se dá quando dois amigos saem em uma viagem de despedida de solteiro de uns deles pela Califórnia, percorrendo vinícolas maravilhosas, experimentando diversos tipos de vinhos, além de falar e comentar bastante sobre as características da bebida. Acho que isso tudo ficou na minha cabeça e me motivou a tratar desse assunto com tamanho interesse. Deve ser adicionado que a forma como o jovem falava de seu ofício, e os lugares maravilhosos que ele conheceu na Europa me fez invejar e ter vontade de também ser um enólogo. Naquele momento pensei que aquela era a ocupação perfeita, que conseguia conciliar o trabalho com o lazer, ganhar dinheiro, viajar e experimentar vinhos. Nossa, pensei com minha ingenuidade, “O que mais alguém pode querer da vida?”. Mas é claro que as coisas não são tão simples assim, e que a atividade de um enólogo envolve uma grande parcela de responsabilidade e dedicação árdua.
Não sei dizer porque esse assunto despertou tamanho interesse para mim, eu estava refletindo e até cheguei a "metaforizar" nossa vida como um bom vinho, quando mais experiências, sabedoria e tampo de estrada temos, melhor ficamos, como um bom vinho. Bom, desculpem pela simplicidade e falta de conhecimento para tentar algo mais rebuscado, até porque nunca cheguei nem perto de ser um enólogo, e sim um simples admirador de vinhos. Por isso, vou manter essa imagem perfeita e ideal em minha mente, o desejo de ser um enólogo que ganha a vida com algo tão agradável, tendo oportunidade de desse contato tão íntimo e próximo da natureza, e ao mesmo tempo levando esse conhecimento para as cidades, nos restaurantes, bares, bitrôs e outros ambientes urbanos que valorizam essa bebida milenar e a guardam como ouro em sua adegas e a utilizam como forma de comemoração em momentos alegres e festivos de suas vidas. Dessa forma, guardo essa história como uma espécie de refúgio inocente no qual posso me esconder e escapar da realidade, ou simplesmente deixarei que isso seja uma pequena história para relembrar em dias de sol, ou ainda, será algo para se contar aos amigos em um bom bate papo acompanhado de uma boa bebida. Alguém tem alguma sugestão? rs.
Curitiba, 07 de maio de 2011.